Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Ainda na ressaca de um primeiro turno complicado, o PT tenta achar o rumo e se reúne na terça-feira para fazer um diagnóstico das falhas da campanha até agora para traçar um rumo e unificar o discurso em busca de reverter o difícil resultado que colocou Fernando Haddad quase 18 milhões de votos atrás do candidato do PSL, Jair Bolsonaro.
"As urnas falam, nós agora temos que escutar", disse Paulo Okamoto, um dos coordenadores da campanha de Haddad. "Temos que ver onde perdemos, porque perdemos."
O PT decidiu chamar a São Paulo não apenas os coordenadores da campanha, como outros petistas de alto escalão, como os ex-ministros Franklin Martins e Aloizio Mercadante e o senador Lindbergh Farias --que acabou de perder a reeleição no Rio de Janeiro-- para analisar os caminhos que o PT deve tomar.
Um dos convidados é o senador eleito pela Bahia Jaques Wagner, que será um dos nomes a ser integrado à coordenação da campanha.
"Vamos ver os caminhos que vamos tomar. A situação é difícil. Mas Deus está conosco. Tem que estar, porque só nós não vai dar", brincou o ex-ministro Gilberto Carvalho, conhecido por ser bastante religioso.
Um dos desafios do partido é conseguir unificar os discursos e os caminhos para esse segundo turno. Há uma disputa entre a versão de que Haddad tem de insistir no que foi feito até agora e tentar uma ainda maior transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e quem ache que, mesmo sem abandonar o líder, é preciso dar mais voz ao candidato Haddad.
"O PT tem que falar mais, mas antes de falar mais precisa combinar o que vai dizer", disse uma fonte.
Em seu primeiro compromisso pós-primeiro turno, Haddad foi a Curitiba para o tradicional encontro de segunda-feira com Lula, para trazer ao partido as avaliações do ex-presidente. O programado era que sua primeira coletiva fosse, mais uma vez, em frente à Superintendência da Polícia Federal, onde Lula está preso desde o início de abril. Na última hora, o PT transferiu a entrevista para um hotel na capital paranaense.
Duas questões preocupam o partido: os indícios de que o PT perdeu votos para Bolsonaro em um eleitorado tradicional do partido, entre eleitores até 2 salários mínimos, inclusive no Nordeste.
"Temos que ver como esse eleitor migrou para o Bolsonaro e trazê-lo de volta", disse Lindbergh ao chegar para a reunião.
Outra questão que preocupa o partido é a avalanche de informações falsas distribuídas pelas redes sociais, especialmente nos últimos dias de campanha, fato que, acreditam os petistas, pode ter ajudado a impulsionar o antipetismo.
Além das ações judiciais, o partido vai tentar aumentar a quantidade de gente produzindo informações e rebatendo acusações infundadas nas redes.
"Se as pessoas recebem fake news também podem receber informações verdadeiras. Agora, com o fim das campanhas nos Estados teremos mais gente liberada para trabalhar nisso", disse Okamoto.
Nesta terça, grupos de mensagens de celular ligados ao PT começaram já a distribuir instruções para que os militantes reajam às chamadas fake news. Entre as orientações, estão a de que simpatizantes criem listas e grupos para distribuir material para parentes e amigos, engajar-se em debates nos grupos e apresentar Haddad para as pessoas.
"Você pode saber que ele é o mais preparado, mas talvez seu vizinho não saiba", diz o texto.