Por Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou de "retrocesso" e "um horror" a decisão tomada nesta quarta-feira pela Executiva do PMDB de filtrar as filiações de deputados ao partido, que afirmou que a ação foi "democrática e legítima".
Em entrevista a jornalistas, Renan também criticou o vice-presidente da República, Michel Temer, que preside o PMDB, ao afirmar que a carta enviada por este recentemente à presidente Dilma Rousseff, na qual reclama da desconfiança do governo com o vice e o PMDB, não mostra preocupação com o Brasil.
"O PMDB é um grande partido, porque o PMDB não tem dono, é democrático, é um partido muito forte por isso. Como é que pode a Executiva querer dizer agora quem é que vai poder entrar, quem é que não vai poder entrar", criticou. "Ou seja, o PMDB a partir dessa decisão passará a ter dono? Isso é um horror."
A decisão da Executiva peemedebista vem em um momento de disputa pela liderança da bancada do partido na Câmara dos Deputados. O ex-líder Leonardo Picciani (RJ) foi destituído pela maioria da bancada e substituído por Leonardo Quintão (MG). Com a adesão de novos deputados à legenda, Picciani poderia buscar reverter a decisão de tirá-lo da liderança.
Renan disse que Temer, como presidente do PMDB, tem a responsabilidade de garantir a união do partido e também mirou na atuação do vice quando esteve à frente da articulação política do governo Dilma, apontando que ele se preocupou apenas com a distribuição de cargos.
"Aquela carta do presidente Michel, que muitos criticaram, mas eu acho que a maior crítica que cabe à carta é que em nenhum momento ela demonstra preocupação com o Brasil", disse.
Outro importante quadro peemedebista, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, reforçou as críticas à decisão da Executiva e a Temer.
"Como vamos julgar uma pessoa que quer entrar no PMDB? Quais serão os critérios?", indagou o ministro, em conversa com jornalistas após participar de evento na Câmara dos Deputados.
Castro disse que Temer tomou partido nas disputas internas do partido e está "francamente trabalhando" pela liderança do deputado Leonardo Quintão.
"Ele (Temer) e (o presidente da Câmara) Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estão juntos para tirar a liderança do Leonardo Piccciani. Isso não é novidade para nenhum de vocês", disse.
Castro criticou a postura de Temer, que é presidente do PMDB, afirmando que a primeira obrigação de um presidente de partido é ser neutro nas disputas internas. "Mas não sou eu que vou ensinar o Michel Temer a fazer política", acrescentou.
O PMDB respondeu às declarações de Renan no fim da tarde desta quarta-feira por meio de nota publicada no site do partido.
"A Comissão Executiva Nacional do PMDB é órgão colegiado com plena competência para tomar decisões que preservem o partido de manobras e artimanhas que quebrem artificialmente a vontade expressa legitimamente pelas suas instâncias internas", segundo a nota.
"Neste momento, os disputantes da Liderança na Câmara dos Deputados buscavam filiar deputados transitórios apenas para assinarem lista de apoio. Isto fragilizaria o PMDB. Por isso, a decisão da Executiva de evitar tais procedimentos", acrescentou o comunicado.
No documento, o partido afirma ainda que a decisão de sua Executiva foi tomada com 15 votos a favor e dois contrários, "resultado revelador de ampla maioria. Decisão, portanto, democrática e legítima".
FITCH
Renan, que falou a jornalistas depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também comentou a decisão da agência de classificação de risco Fitch de rebaixar a nota de crédito do Brasil e tirar do país o selo de bom pagador.
"Durante o ano, em várias oportunidades, nós dissemos que o ajuste era insuficiente. Mais do que isso, propusemos uma agenda para retomada do desenvolvimento. Enquanto não fizermos isso para valer, o Brasil vai continuar pagando esse preço. Essa é a consciência que todos nós precisamos ter", disse Renan.
"Precisamos desamarrar os pés do Brasil, deixar o Brasil voltar a caminhar", afirmou o senador, que defendeu a realização de reformas estruturais e que o governo e seus programas "caibam" no Produto Interno Bruto (PIB) do país.