Por Julien Toyer e Sonya Dowsett
MADRI (Reuters) - Um resultado histórico na eleição parlamentar realizada no domingo na Espanha, marcado pela fragmentação do eleitorado, faz prever semanas de negociações para a formação de um governo de coalizão, uma vez que nem o partido conservador do primeiro-ministro Mariano Rajoy nem as legendas de esquerda conseguiram clara maioria.
Apesar de ter conquistado a maioria dos votos, o Partido Popular (PP), de centro-direita, teve seu pior resultado até hoje em uma eleição geral, em decorrência da indignação dos espanhóis com os casos de corrupção no governo e o aumento do desemprego, que os levaram em massa a se afastar dos políticos governistas.
O resultado remete a uma situação semelhante em Portugal, onde os conservadores, que estavam no poder, ganharam a eleição em outubro, mas sem conseguir a maioria dos votos, o que levou à formação de um governo socialista apoiado por partidos de extrema esquerda.
A inesperada votação do partido Podemos, em ascensão e contrário às medidas de austeridade, levou-o a uma posição crucial, e é o mais recente exemplo da crescente expansão na Europa de partidos que se opõem às forças tradicionais de centro-esquerda e centro-direita.
O voto fragmentado dá início a uma nova era na Espanha, que terá de se fundamentar na formação de acordos parlamentares, rompendo um sistema bipartidário que dominava o país desde os anos 1970 e lançando uma cortina de fumaça sobre um programa de reformas econômicas que ajudou a tirar o país da recessão.
"Estamos começando um período que não será fácil", disse Rajoy a simpatizantes da sacada da sede de seu partido, no centro de Madri. "Será necessário chegar a pactos e acordos, e vou tentar fazer isso."
No entanto, a probabilidade de uma coalizão liderada pelos PP se esvaeceu, já que a votação robusta do Podemos o alçou ao terceiro lugar, ultrapassando o partido Ciudadanos, também novato na política espanhola, mas com posições políticas pró-mercado, o que o tornaria um aliado natural do PP.
Um acordo entre o PP e Ciudadanos resultaria em 163 cadeiras no Parlamento, muito aquém das 176 necessárias para um governo de maioria.
Os fortes resultados do Podemos fazem a balança pender para a esquerda do espectro político, já que cinco partidos de esquerda liderados pela oposição socialista e o Podemos obtiveram juntos 172 cadeiras.
No entanto, será difícil formatar uma aliança de esquerda, pois as legendas diferem sobre política econômica e o grau de autonomia que deve ser concedido à rica região da Catalunha, onde há um forte movimento independentista.
"Este resultado confirma que a Espanha entrou em uma era de fragmentação política," disse o analista Antonio Barroso, da Teneo Intelligence. "A questão-chave é saber se haverá uma coligação de partidos contra Rajoy."