Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Enquanto aliados e oposicionistas começam a planejar cenários pós governo Temer, o próprio presidente se recusa, ao menos por enquanto, a ceder as pressões para aceitar um eventual resultado negativo na cassação da chapa presidencial pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e pretende lutar pelo cargo, disseram à Reuters fontes próximas do peemedebista.
Uma das alternativas que segmentos da base aliada consideram como uma saída honrosa para Michel Temer é a cassação pelo TSE e a decisão do presidente de não recorrer. Por enquanto, no entanto, o Planalto não considera essa hipótese.
"Não existe isso. O presidente vai usar todos os recursos a sua disposição, seja no TSE, seja no Supremo Tribunal Federal", disse um auxiliar palaciano.
O Planalto trabalha com a possibilidade de um dos ministros pedir vistas do processo, o que ajudaria a arrastar a decisão e dar tempo de uma reação ao governo. No entanto, aliados avaliam que isso pode ser mais um sinal ruim para o governo, uma demonstração de fraqueza.
Além disso, não há garantias sobre como vão agir os ministros. O Planalto ainda considera que há saldo favorável e contabiliza apenas três dos sete ministros como certamente contrários a Temer. "Mas se sabe que, com a mudança na conjuntura, os ministros vão sofrer muita pressão", disse uma fonte palaciana.
Um peemedebista próximo a Temer afirma que o presidente descarta totalmente a renúncia e confirma que irá brigar pelo mandato no TSE. Mas admite que as coisas podem mudar a depender da reação da base ao resultado na Justiça Eleitoral.
"Se ele perder a base, aí as coisas podem mudar. Mesmo assim, tem que ter uma porta de saída, alguma negociação que dê segurança a ele", disse o peemedebista.
A sessão no TSE que deve começar a definir o futuro do presidente está marcada para o dia 6 de junho. Até lá, os principais partidos da base aliada --PSDB e DEM-- decidiram recolher as armas e suavizar os movimentos que miram uma sucessão de Temer, mas isso não significa que tenham mudado de ideia.
"Mesmo parlamentares mais próximos já falam de transição. Há um movimento forte em direção à mudança, mas há a necessidade de avaliar o momento", disse um parlamentar da base. "Qualquer movimento sobre ficar ou deixar o governo vai ficar para depois do TSE."
A avaliação entre tucanos e integrantes do DEM é que uma decisão sobre deixar o governo ou não --o que poderia inviabilizar a maioria que hoje Temer tem no Congresso e sua imagem de que é capaz de avançar com as reformas-- precisa depender do TSE.
Se os ministros votarem pelo relatório do ministro Herman Benjamin, que propõe a cassação da chapa. Seria a deixa para que os partidos se permitissem a deixar o governo.
"Nada pode acontecer que não seja o TSE. O dia seis é a meta. Se não houver a cassação, aí vamos ter que repensar o que fazer", disse à Reuters um membro de alto escalão do DEM, que reconhece não haver espaço, ao menos por enquanto, de uma saída negociada com Temer.
O governo apostava em um final de semana menos ruim, depois de ter iniciado com o inquérito aberto contra o presidente e manifestações que terminaram em uma batalha campal em Brasília.
No entanto, a sexta-feira terminou com o pedido de demissão da presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Silvia Bastos, e a agência Moody's reduzindo a perspectiva para a nota de crédito do Brasil de estável para negativo.
Apesar de a própria Maria Silvia ter divulgado que saía por razões pessoais, fontes do governo confirmam que a saída trouxe um impacto negativo em um momento ruim do governo. A redução da perspectiva para a nota brasileira, por "resultado do aumento da incerteza relacionada aos eventos políticos recentes, que podem comprometer a agenda de reformas do governo", aumenta a incerteza.