Por Silvio Cascione e Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - O vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, disse nesta quarta-feira ter convicção de que a Câmara dos Deputados também vai colaborar com o país e que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não teve a intenção de isolar os deputados ao propor ao governo uma agenda para o Brasil.
Após se reunir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras lideranças no Palácio do Jaburu, Temer disse ainda que aproveitará um almoço com deputados peemedebistas nesta quarta-feira para chamar a Câmara a participar da agenda para o país.
"Ele (Renan) jamais quis isolar, digamos assim, o Senado em relação à Câmara", garantiu Temer. "A ideia do presidente Renan foi, ao apresentar uma proposta que nasceu no Senado e de sua lavra, chamar a Câmara dos Deputados", acrescentou.
As declarações vêm em um momento em que o governo concentra seus esforços de rearticulação da base aliada no Senado diante de uma situação na Câmara classificada de "inadministrável" por um líder da base.
"A sensação que eu tenho é que a Câmara vai colaborar, porque também está preocupada com o país", insistiu Temer, acrescentando que levará à bancada do PMDB a mensagem para que a Câmara participe dos esforços de superação da crise política e econômica que o país atravessa.
Na mesma linha e um pouco depois das declarações de Temer, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse ter sentido, após reunião que teve na terça-feira com lideranças governistas da Câmara, que os deputados estão dispostos a construir uma agenda positiva para o país.
"Na reunião que eu fiz com líderes da Câmara ontem, eu senti uma disposição sincera de buscar, a Câmara também, construir uma agenda, uma pauta que dialogue com essa iniciativa do Senado, ver o que é convergente, o que eles querem acrescentar, para a gente ter uma perspectiva para o semestre de uma agenda positiva", disse Mercadante a jornalistas após participar de formatura de diplomatas no Itamaraty com a presença da presidente Dilma Rousseff.
Na terça-feira, no entanto, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criticou a estratégia do governo de concentrar no Senado os esforços de reconstrução de sua base de apoio. Cunha alegou que era uma tentativa de dizer que só existe o Senado e que está tudo bem. "Mas isso não vai constranger a Câmara", declarou.
O presidente da Câmara rompeu com o Palácio do Planalto em julho e foi para a oposição a Dilma depois de ter seu nome envolvido na operação Lava Jato por um delator, que o acusou de lhe pedir pessoalmente o pagamento de propina.
LULA CONCORDOU
Ao falar com jornalistas depois da reunião com Lula, Temer afirmou que o ex-presidente considerou positivas as declarações dadas por ele na semana passada, quando o vice-presidente reconheceu a gravidade da crise política.
Na ocasião, o vice-presidente fez ainda um apelo pela reunificação do país, após o governo ver avançar na Câmara uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que tem impacto nas contas públicas.
"O ex-presidente Lula achou positiva a minha declaração na semana passada, quando alertei para a gravidade da crise", disse Temer.
Os comentários do vice, na ocasião, abriram espaço para a interpretação de que ele estaria se colocando como alternativa em um momento em que ganhavam força especulações em torno da abertura de um processo de impeachment contra Dilma.
Tal intenção foi negada por Temer em conversa com a presidente e, nesta semana, a situação política deu sinais de distenção.