Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer tentou arbitrar uma disputa entre seus ministros, mas sempre endossou uma "solução técnica" para o conflito entre o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, disse nesta quinta-feira o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola.
Em uma nota de cinco tópicos, lida pelo porta-voz, Temer negou que tenha feito pressão para que o ex-ministro resolvesse o problema de Geddel com um edifício em Salvador, que teve a autorização negada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Geddel comprou um apartamento no 23º andar do prédio, mas o Iphan autorizou apenas 13 andares.
"O presidente buscou arbitrar conflitos entre os ministros e órgãos da Cultura sugerindo a avaliação jurídica da Advocacia-Geral da União, que tem competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública..., já que havia divergências entre o Iphan estadual e o Iphan federal", disse o porta-voz.
Mais cedo, veículos de mídia informaram que, em depoimento à Polícia Federal, Calero disse que Temer o pressionou e tentou enquadrá-lo para encontrar uma "saída" para a liberação do empreendimento imobiliário.
Temer também confirma que conversou duas vezes com Calero sobre o problema com Geddel para "solucionar o impasse e evitar conflito entre seus ministros".
"O presidente trata todos seus ministros como iguais. E jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções", disse o porta-voz.
Falando em nome do presidente, Parola informou ainda que Temer estranhou os "boatos" de que Calero teria pedido uma segunda audiência, no dia 17 deste mês, apenas para "gravar clandestinamente conversa com o presidente da República para posterior divulgação".
Calero pediu demissão do governo na semana passada e, no fim de semana, acusou Geddel de pressioná-lo para interferir na decisão do Iphan de barrar o empreendimento.
CRISE
O depoimento do ex-ministro da Cultura, envolvendo o presidente nas acusações contra Geddel, pegou o Planalto de surpresa e irritou profundamente o presidente, a ponto de Temer optar por chamar seu porta-voz e responder ponto por ponto as acusações feitas por Calero, mesmo com parte de sua assessoria defendendo que não respondesse alegando o segredo de Justiça do depoimento.
O clima no Palácio do Planalto era de relativa tranquilidade, apesar da apreensão com a possibilidade de confirmação da delação dos executivos da Odebrecht na operação Lava Jato, com a aposta de que a crise com Geddel se acalmaria.
A avaliação era que a situação iria ser contornada e esperava-se até mesmo que Calero voltasse atrás nas suas declarações à imprensa.
Agora, disse à Reuters uma fonte palaciana, a crise se generaliza e chega a Temer, quando até este momento era focada em um ministro --mesmo que muito próximo ao presidente-- e dá pretexto para que o próprio Temer seja contestado e envolvido em um caso de aparente abuso de poder.
A possibilidade de mais denúncias contra Geddel, especialmente vindas das delações dos executivos da Odebrecht na Lava Jato, deixam Temer em uma situação complicada. Após as primeiras acusações de Calero, o presidente anunciou que manteria Geddel no cargo.
Geddel evitou nos últimos dias contato com a imprensa e não tem respondido os pedidos de comentários. O ministro deixou Brasília na quarta-feira.