Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O vice-presidente Michel Temer se licenciou da presidência do PMDB nesta terça-feira, dando lugar no comando do partido ao senador Romero Jucá (PMDB-RR), que fez um duro discurso no plenário do Senado contra o governo e rebateu as críticas de peemedebistas à decisão do partido de romper com o governo da presidente Dilma Rousseff.
Jucá prometeu buscar a unidade do PMDB enquanto estiver no comando da sigla e explicou a decisão de Temer afirmando que o vice vinha sendo alvo de ataques e "armações" e não poderia "descer à planície" para expor posições e fazer o enfrentamento em nome da sigla.
"O nosso presidente, o vice-presidente Michel Temer, nos últimos dias foi vítima de uma série de ataques, de uma série de manipulações, sofismas, armações e agressões, e ficava em uma situação difícil porque, ao mesmo tempo em que é vice-presidente da República, com todo o poder institucional que tem, é também presidente do PMDB, e, em tese, teria que descer ao debate, teria que expor posições, e, mais do que isso, teria que fazer enfrentamentos", discursou Jucá.
Temer tem sido alvo de críticas de governistas e de petistas após a decisão do PMDB de romper com o governo Dilma. O agora presidente licenciado do PMDB pode ser alçado à Presidência da República caso seja concretizado o impeachment de Dilma, que tramita na Câmara dos Deputados.
Apesar de pregar a unidade do PMDB, Jucá rebateu em sua fala o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que classificou de "precipitada" a decisão do PMDB de desembarcar do governo Dilma. Jucá também fez críticas à proposta de peemedebistas de antecipar as eleições como saída para a crise.
"Alguns levantaram que a decisão seria precipitada ou até pouco inteligente. Pois bem, não acho que a posição foi precipitada", disse Jucá. "Acho que a posição veio na hora certa... Não é precipitado tomar uma decisão a favor do povo."
"A posição foi pouco inteligente? Pouco inteligente para quem? É inteligente nós cuidarmos da nossa vida e deixarmos o povo ao léu? Talvez seja a hora de ser pouco inteligente em algumas questões e de ser defensor do bem comum, de deixar o interesse pessoal e de cuidar do interesse coletivo de quem votou em todos nós", alfinetou.
Sobre a antecipação de eleições gerais para outubro deste ano, Jucá criticou a proposta, afirmando que ao contrário de um eventual impedimento de Dilma, isso seria sim um "golpe".
"A saída está na regra, está na Constituição. Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe, aí sim é golpe. Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não. Todo mundo renuncia está na Constituição? Não", disse.
SE AFOGANDO NA BACIA D'ÁGUA
O presidente em exercício do PMDB também fez duras críticas ao governo, no qual seu partido tem seis ministros, e afirmou que os peemedebistas não têm responsabilidade na atual crise econômica vivida pelo país.
"Não venham cobrar do PMDB a crise econômica porque o PMDB não pilotou esse avião econômico. Aliás, o PMDB não pilotou esse avião do governo", disse.
"O Michel não era copiloto, o Michel estava fora da cabine. Nós éramos do PMDB... comissários de bordo. A gente segurava as pessoas, mandava apertar o cinto e dava um saquinho para vomitar."
Apesar de comparar a situação do país e do governo a de alguém que encheu uma bacia d'água, colocou a cabeça dentro d'água e começou a se afogar, Jucá disse que o PMDB não discutiu o impeachment e que se posicionará na hora certa.
"Nós estamos sendo afogados em uma bacia grande. O governo pegou uma bacia grande, encheu de água, ficou de joelho, botou a cabeça dentro e está morrendo afogado na bacia. Se o Brasil se levantar, o Brasil sobrevive. E é isso que o PMDB pretende fazer", disse.
"Em cada momento, o PMDB deixará clara a sua posição, e essa posição será sempre a favor do povo brasileiro e com toda a coragem que nós podemos colocar."
(Reportagem adicional de Eduardo Simões)