Por Roberta Rampton e Lesley Wroughton
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu nesta terça-feira o secretário de Estado, Rex Tillerson, após uma série de rixas públicas por políticas sobre Coreia do Norte, Rússia e Irã, substituindo seu diplomata-chefe pelo leal diretor da CIA, Mike Pompeo.
A maior reformulação do gabinete de Trump desde que assumiu, em janeiro de 2017, foi anunciada pelo presidente no Twitter, num momento em que seu governo trabalha rumo a um possível encontro com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, após meses de retóricas duras e crescentes tensões por conta do programa nuclear de Pyongyang.
A rara demissão do diplomata mais sênior dos Estados Unidos fecha meses de atritos entre o presidente republicano e o ex-executivo-chefe de 65 anos da Exxon Mobil Corp (NYSE:XOM). As tensões chegaram ao ápice em meados do ano passado, em meio a relatos de que Tillerson havia chamado Trump de “idiota” e considerado renunciar. Tillerson nunca negou ter usado a palavra.
Críticos expressaram receios com a decisão de substituir diplomatas seniores tão rapidamente antes do encontro sem precedentes e preocupações de que Pompeo irá encorajar Trump a descartar o acordo nuclear de 2015 com o Irã e ser mais hostil com a Coreia do Norte.
Críticos disseram ainda que a ação irá disseminar mais instabilidade no volátil governo de Trump e marca a saída de outro moderado que buscou enfatizar os fortes laços dos EUA para seus aliados em meio a críticas de Trump.
Trump anunciou as alterações em uma publicação de manhã no Twitter e mais tarde disse a repórteres sobre o motivo.
“Nós nos dávamos até realmente bem, mas discordamos em coisas”, disse Trump. “Quando você olha para o acordo com o Irã: eu acho que é terrível, eu acho que ele pensa ser OK. Eu queria rompê-lo ou fazer algo, e ele se sentia um pouco diferente”.
No Departamento de Estado, um visivelmente emotivo Tillerson disse que Trump ligou por volta do meio-dia do Air Force One, o avião presidencial, horas após ter sido sumariamente demitido via Twitter. Tillerson também conversou com o chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly.
Ele disse que entrega o cargo em 31 de março, mas que irá delegar suas responsabilidades a John Sullivan, vice-secretário de Estado.
“O que é mais importante é garantir uma transição suave e ordenada durante um momento em que o país continua a enfrentar desafios significativos de políticas e segurança nacional”, disse Tillerson, com a voz tremendo às vezes, a repórteres em uma sala de imprensa lotada.
Ele se recusou a agradecer Trump pessoalmente ou elogiá-lo, como fez em ocasiões anteriores, mas enfatizou sua forte relação com o secretário de Defesa, Jim Mattis. Juntos, os dois eram vistos como uma influência moderada sobre algumas políticas de Trump.
No entanto, Tillerson também comandou um Departamento de Estado que teve suas funções amplamente reduzidas, com diversos cargos de alto escalão desocupados e muitos aliados questionando a eficácia de lidar com um diplomata que suspeitavam nunca ter tido o ouvido de Trump.
Em contraste, Trump disse que ele e Pompeo possuem “um processo de pensamentos similar”.
Pompeo, ex-oficial do Exército que representou um distrito do Kansas na Câmara dos Deputados antes de assumir o cargo na CIA, é visto como uma figura leal a Trump e que tem usufruído de uma relação menos hostil com espiões de carreira do que Tillerson teve com diplomatas de carreira.
Trump escolheu a vice-diretora da CIA, Gina Haspel, para substituir Pompeo na agência. Uma agente veterana da CIA, Haspel é apoiada muitos dentro da comunidade da inteligência dos EUA, mas é vista com cautela por alguns no Congresso por seu envolvimento nas instalações de detenção em “locais negros” da agência.
Autoridades seniores da Casa Branca disseram que Trump desejava sua nova equipe antes de qualquer cúpula com Kim, que convidou o presidente dos EUA para encontro em maio após meses de crescentes tensões por conta dos programas nucleares e de mísseis da Coreia do Norte.