Um estudo do Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo (Suécia) mostra que cerca de 5,7 bilhões de pessoas, ou 72% da população mundial, vivem em autocracias eleitorais ou autocracias fechadas. Só 13% da população mundial vive em democracias liberais, sendo a maioria na Europa.
O estudo considera que nas autocracias eleitorais há eleições oficiais, mas não livres. Já em autocracias fechadas, estão indivíduos ou blocos que exercem o poder sem controle. Eis a íntegra do estudo (PDF – 15 MB, em inglês).
Embora as democracias europeias sejam algumas das mais fortes no Índice de Democracia Liberal, especialistas do estudo ressaltam os desenvolvimentos recentes no continente. “Também vimos na Europa algumas das reversões mais dramáticas – o que chamamos de autocratização ”, disse Martin Lundstedt, cientista político e co-autor do relatório sobre democracia do V-Dem.
“Principalmente na Polônia e na Hungria. A Grécia é outro caso recente e preocupante, embora a queda na qualidade democrática ainda não tenha sido tão dramática no país”, afirmou.
O partido de direita Lei e Justiça comanda a Polônia desde 2015. Os governos do partido são caracterizados por políticas com viés considerados católicos e conservadores.
Nas eleições de outubro, no entanto, a coalizão de partidos de esquerda conseguiu vencer a maioria dos assentos no Parlamento, apesar de o Lei e Justiça seguir com a maior porcentagem única por partido. Com isso, o partido de direita conquistou 194 cadeiras no Parlamento, enquanto os partidos de esquerda obtiveram 248 ao todo.
A Hungria, por sua vez, é governada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán há 13 anos. O premiê, considerado “ultranacionalista” de direita, é conhecido por suas políticas contra imigrantes e contra a população LGBTQIA+. Em 2022, a Comissão Europeia propôs um corte de € 7,5 bilhões no valor pago pelo bloco ao país em resposta a violações do Estado de direito pelo governo de Orbán.
Embora digam que os desenvolvimentos na Polônia e na Hungria são os mais preocupantes, os especialistas do V-Dem também veem tendências antidemocráticas em quase todos os outros países da Europa. Isto se dá porque, segundo eles, os partidos nacionalistas e populistas de direita registam sucesso eleitoral e se consolidam cada vez mais na corrente política dominante.
“Normalmente são partidos de extrema-direita que têm um compromisso duvidoso com a democracia ou são totalmente hostis à democracia”, disse Lundstedt. “Por exemplo, atacam frequentemente aspectos da liberdade dos meios de comunicação social e da liberdade de associação, ou querem minar a partilha de poder entre o Executivo, o Parlamento e os Tribunais”, afirmou.
Segundo o estudo, a tendência de autocratização prevalece globalmente cada vez mais. No entanto, a inclinação foi revertida em alguns países. Na Europa, por exemplo, as democracias da Macedônia do Norte, da Moldávia e da Eslovênia tornaram-se novamente mais liberais depois de passarem por períodos de autocratização, avalia o relatório do V-Dem.
Na Holanda, o Partido pela Liberdade (PVV, na sigla em holandês), do deputado populista Geert Wilders, venceu as eleições parlamentares na Holanda realizadas em 22 de novembro e Wilders pode vir a ser o novo primeiro-ministro.
Wilders, de direita, defende a “desislamização” da Holanda e afirma que não quer mesquitas ou escolas islâmicas no país. Conforme a AP News, dentre suas propostas eleitorais de 2023, está a suspensão total da aceitação de asilo no país e a rejeição de imigrantes nas fronteiras.
DIREITA NA EUROPA EM 20 ANOS
Mesmo que ainda tenham avançado, os governos de direita e de centro-direita nas 10 maiores economias da Europa perderam tração depois de uma alta expressiva nos anos 2010, passando de 7 governos para 5, somados os 2 espectros políticos.Isso não quer dizer que o encolhimento da direita nessas economias marca o fim da onda de governos conservadores em todo o mundo.
No início do século, metade das maiores economias do continente era de centro-esquerda (Alemanha, Holanda, Itália, Reino Unido e Suécia) contra duas de centro-direita (Espanha e Polônia), uma de direita (França), uma de centro (Turquia) e uma indefinida (Rússia).
A situação se inverteu em 2010, quando 7 governos figuravam na direita e centro-direita, com exceção da Espanha, Polônia e Rússia.
Apesar de ter perdido força, a presença da direita e da centro-direita nas maiores economias da Europa se manteve em alta 10 anos depois, com 5 países (Alemanha, Holanda, Polônia, Reino Unido e Turquia).