Oito em cada 10 brasileiros estão preocupados com a mudança do clima, segundo dados da pesquisa “Natureza e Cidades: a relação dos brasileiros com a mudança climática”. Os dados são de estudo realizado pela Fundação Grupo Boticário, com apoio de Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Anamma (Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente) e Aliança Bioconexão Urbana.
A pesquisa mostra ainda que 71% dos entrevistados percebem que, com o passar do tempo, os eventos climáticos extremos estão ficando cada vez mais frequentes e intensos.
Para a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, o resultado da pesquisa pode fazer com que as pessoas reflito sobre soluções:
“A pesquisa nos permite compreender melhor os impactos diretos das mudanças do clima na vida da população, o nível de entendimento das pessoas sobre o aumento dos fenômenos climáticos extremos e, também, refletir sobre possíveis caminhos para tornar nossas cidades mais resilientes à nova realidade.”
Perguntadas sobre a relação das mudanças do clima e o aquecimento global, o estudo mostra que 64% das pessoas sabem que a mudança do clima vai além do aquecimento do planeta. Para 93% dos entrevistados, eventos como tempestades, ondas de calor e de frio, ciclones e outros, estão ficando cada vez mais intensos em todo o planeta. Por esse motivo, 91% dos brasileiros considera as mudanças climáticas importantes.
O levantamento ouviu 2.000 pessoas com idades de 18 a 64 anos nas 5 regiões do país. Na amostra, 50,5% dos entrevistados residem em capitais e 49,5% vivem nas demais cidades.
Impactos
Cerca de 1 em cada 3 pessoas (35%) já se sentiram impactadas ou tiveram um familiar diretamente impactado por fenômenos climáticos extremos. Dentre os que se dizem impactados, 65% relatam alguma perda financeira, com prejuízo médio estimado de R$ 8.485,00 por pessoa.
Questionados sobre quais os eventos que causaram essas consequências diretas, os mais citados pelos entrevistados foram: chuvas fortes ou tempestades (45%), ventanias (21%), inundações e alagamentos (21%), ondas de calor (20%), períodos longos de estiagem (7%) e, por fim, deslizamentos de terra ou desmoronamentos (5%).
O estudo propôs uma escala de 0 a 10 para que os entrevistados marcassem outras repercussões das mudanças climáticas. O aumento nos preços dos alimentos figurou em 1º lugar, com nota média de 8,8 nessa escala. Outras marcações dos entrevistados igual ou acima de 8, na escala, incluem: extinção de espécies (8,5); aumento do nível do mar (8,2); crise no abastecimento de água (8,1) e crise na geração de energia (8).
Em um recorte que considera a região onde vivem os entrevistados, a população que se sente mais impactada diretamente é a da região Sul (45%), seguida por Sudeste (36%), Norte (34%), Centro-Oeste (32%) e Nordeste (29%).
Justiça climática
A pesquisa também mostrou que 39% das pessoas entrevistadas percebem que as mudanças do clima impactam de forma e intensidade diferentes grupos sociais e países distintos.
Para a diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, essa consciência é relevante na busca de igualdade de direitos: “Essa compreensão é importante para percebermos que não se trata de uma questão meramente ambiental, é também uma questão ética e política. Portanto, como sociedade, precisamos avançar no entendimento sobre a justiça climática”.
Nas capitais brasileiras, em média, 59% das pessoas já assimilaram que mudança climática não é o mesmo que previsão do tempo. No entanto, o entendimento sobre causas e consequências das mudanças climáticas varia conforme a escolaridade dos entrevistados.
Segundo os dados coletados, quanto menor o nível de escolaridade, menor a compreensão sobre como o ser humano influencia nas alterações do clima do planeta –o que pode sinalizar a desigualdade no acesso à informação pelas pessoas com menor grau de instrução.
Verde nas cidades
Além de investigar a opinião da população brasileira sobre as mudanças climáticas, o estudo da Fundação Grupo Boticário tem o objetivo de mostrar a importância de aumentar a presença de áreas verdes nas cidades para amenizar o impacto desses eventos extremos nas regiões urbanas.
Quase a totalidade dos entrevistados (98%) gostariam de viver em cidades mais arborizadas –com mais árvores nas ruas, mais parques urbanos e corredores verdes.
Nove em cada 10 entrevistados percebem que a sensação de calor é maior em regiões com menos áreas verdes. Para 86% dos entrevistados, os espaços verdes estão diminuindo; e 26% disseram que moram em regiões sem parques, bosques ou áreas verdes.
Mudança de hábitos
Diante dessas percepções, 87% dos entrevistados admitiram estar dispostos a mudar seus hábitos em benefício do planeta, sendo que 19% não indicaram como mudá-los. Dentre os que citaram mudanças, as alternativas listadas incluem: reciclar e descartar o lixo corretamente (24%), plantar árvores (15%), evitar uso de plástico (8%) e usar meios de transporte menos poluentes (8%).
A professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Cecilia Polacow Herzog, afirma que é importante aproveitar essa disposição de mudança para incentivar medidas que reduzam o aquecimento global.
Ela também cita algumas ações que podem ser praticadas para ajudar na conscientização daqueles que não sabem o que fazer: “o uso de transporte público e bicicletas; a economia de energia e o uso de energia renovável; o plantio de árvores; os cuidados com as áreas naturais de forma geral e o consumo consciente –privilegiando produtos e serviços de empresas comprometidas com a redução de seus impactos negativos na sociedade e no meio ambiente, entre outras iniciativas”.
“Além disso, é importante incentivar o voto consciente em candidatos que compreendam a importância da conservação da natureza para o nosso futuro”, diz.
Com informações da Agência Brasil