São Paulo - Depois de votar no domingo do 1° turno em um colégio no Alto de Pinheiros, bairro nobre da capital paulista, o ex-presidente Michel Temer, 82 anos, viajou a Londres para uma série de palestras com investidores decidido a fazer um pronunciamento assim que voltasse ao Brasil na quinta-feira da semana seguinte.
Segundo um auxiliar próximo ao emedebista, Temer teria dito que iria declarar apoio ao ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa pelo governo paulista e se posicionaria "contra o PT" no plano nacional, mas ainda estava em dúvida sobre um apoio mais ou menos incisivo ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os bolsonaristas estavam esperando essa declaração para fazer um contraponto à "frente ampla" apresentada como trunfo pela campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recebera a adesão de tucanos, ex-tucanos, economistas e adversários históricos.
Sem capital político para tentar novos voos eleitorais após deixar o Palácio do Planalto, o ex-presidente tornou-se ao longo das eleições de 2022 um conselheiro político requisitado e foi procurado por interlocutores do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A relação com Bolsonaro, porém, esfriou ao longo da campanha. Temer disse a vários interlocutores que aceitaria se encontrar Lula, mas esperava algum gesto do ex-presidente. Apesar da insistência de integrantes do primeiro escalão e estrategistas da campanha petista, Lula não fez gesto nenhum, pelo contrário.
"A insistência do Lula em falar de golpismo causou muita chateação no Michel. Lula também foi muito grosseiro ao usar a palavra escravocrata para falar sobre a reforma trabalhista", contou ao Estadão o ex-ministro Moreira Franco (MDB), um dos mais próximos amigos do ex-presidente.
Quando a notícia de que Temer havia decidido se colocar contra o PT no 2° turno foi divulgada no Brasil, o ex-presidente passou a ser pressionado por todos os lados. O presidente Jair Bolsonaro ligou para o antecessor pedindo apoio, mas familiares e amigos como Eros Grau, Nelson Jobim, Márcio Toledo e Moreira Franco defenderam de forma incisiva o apoio a Lula.
"Ele (Temer) me ligou e pediu que desmentisse que tinha decidido apoiar Bolsonaro. Michel não tomaria essa decisão fora do Brasil", disse Moreira Franco à colunista Mônica Bergamo da Folha de S.Paulo.
O desmentido gerou uma reação do campo bolsonarista e Temer pediu, então, a um assessor no Brasil que redigisse uma nota. A primeira versão enviada, segundo esse assessor, foi direta: "Não tenho condição política de ficar com o PT e vou apoiar Tarcísio de Freitas em São Paulo".
O ex-presidente, porém, vetou essa redação e pediu uma versão mais enigmática.
"Estou há alguns dias em Londres cumprindo agenda de palestras. Acompanhando o noticiário sobre as eleições de 2º turno e em resposta a todos que tem me procurado, esclareço que aplaudirei a candidatura que defender a democracia, cumprir rigorosamente a Constituição, promover a pacificação, mantiver as reformas já realizadas no meu governo e propor ao Congresso Nacional as reformas que já estão na agenda do país"
Diante do que considerou um recuo de Temer, Bolsonaro decidiu revelar, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, a conversa que teve com o ex-presidente. "Houve um contato telefônico meu com o presidente Temer. Ele está fora do Brasil. E ele já, em nota, falou que não está do lado quem quer destruir parte do que ele fez pelo Brasil. Como, por exemplo, a reforma trabalhista, e estará do outro lado. Não falou explicitamente meu, mas dá para entender que ele está do nosso lado. agradeço esse apoio mesmo velado do ex-presidente", disse Bolsonaro.
A ideia original de Temer de fazer um pronunciamento ou entrevista coletiva na sexta-feira foi deixada de lado e tudo indica que sua posição na disputa federal será mesmo neutra, mas em São Paulo a expectativa é de que o ex-presidente suba no palanque de Tarcísio de Freitas.
Aliados do ex-presidente lembram que o candidato de Bolsonaro em São Paulo era assessor técnico da Câmara quando Temer assumiu a Presidência da República. Tarcísio foi chamado pelo então ministro Moreira Franco, chefe da secretaria geral da Presidência, para coordenar o Programa de Parceria e Investimentos, considerado a maior aposta da administração.
Foi na transição de Temer para Bolsonaro que o novo presidente se encantou com Tarcísio, que é capitão do Exército, e o convidou para assumir o ministério da Infraestrutura. "O Michel teve um papel importante na construção do apoio do MDB em São Paulo ao Tarcísio", revelou o deputado federal Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB.