O jornalista, consultor de comunicação e articulista do Poder360 Thomas Traumann, 56 anos, disse que analistas de mercado não devem esperar um corte de gastos no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Traumann foi porta-voz e ministro da Comunicação do governo Dilma Rousseff (PT).
O ex-ministro afirmou que alguns empresários têm “uma memória quase afetiva” do ajuste de 2003. “Muitas pessoas gostam daquele momento. Menos Lula”, disse. Segundo ele, prevalece no governo a ideia de que é necessário gastar para fazer o que os eleitores esperam. “A solução deste 3º governo é uma solução gastadora”, afirmou.
Assista à íntegra da entrevista (40min4s):
Traumann afirmou que a vitória de Javier Milei, agora presidente eleito da Argentina, deverá intensificar o enfraquecimento do Mercosul. Mas não trará mudanças radicais. “Eu acho que o Mercosul já acabou”, disse.
A incerteza, mesmo comedida, sobre a relação entre Brasil e Argentina é um dos itens que podem tonar a situação mais complexa para o governo em 2024 na avaliação de Traumann. Outro item é a expectativa de crescimento menor do PIB (Produto Interno Bruto) global.
O cenário interno também pode se complicar, sobretudo na relação do governo com o Congresso. “O que me assustou muito foi como o Congresso antecipou a disputa eleitoral interna”, afirmou, em referência à disputa para a presidência da Câmara e do Senado, que será no início de 2025.
Ele espera que isso se intensifique em 2024 à medida que haverá menos tempo até as escolhas no Congresso. O governo terá desafios para influenciar nessa disputa: escolher um candidato poderá resultar em grande dificuldade em caso de derrota. Mas se abster da influência também pode resultar no risco de vitória de um adversário do governo.
LIVRO
Traumann é autor do livro “Biografia do Abismo”, com o cientista político Felipe Nunes (editora Hapercollins Brasil, 240 páginas, R$ 45), que será lançado em 11 de dezembro de 2023 e está em pré-venda.
O livro mostra a divisão que a polarização política causou na sociedade brasileira. “Tudo virou uma questão, que por trás [questiona] se o sujeito votou no Lula ou votou no Bolsonaro, em 2022”, afirmou Traumann. Ele disse que houve “calcificação” da polarização e que os 2 grupos devem ter cada um cerca de 45% dos votos na eleição presidencial de 2026. Ressaltou que isso independerá da economia.