Mesmo com esforços focados em uma campanha de filiação desde meados de 2023, encabeçada principalmente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o PL (Partido Liberal) teve um crescimento tímido desde outubro de 2022.
Foram 36.502 novos inscritos no período -um crescimento de 5% no quadro de políticos da legenda. Contudo, mesmo não representando o “boom” esperado pela sigla, o PL foi o 4º partido que mais cresceu desde o ano passado.
Ficou atrás do Podemos, do Solidariedade e do Psol. No entanto, tanto o Podemos quanto o Solidariedade passaram por fusões com outros partidos, o que explica parte do aumento no número de inscritos.
Parte da tentativa de angariar novos filiados ao PL se dá pelo objetivo do partido de eleger mais prefeitos em 2024. Segundo Valdemar Costa Neto, presidente da legenda liberal, a meta é eleger até 1.500 executivos municipais no próximo pleito.
Já o Psol apresentou crescimento mesmo sem a incorporação de outra sigla. Passou de 226.072 integrantes em 2022 para os atuais 292.039.
Os dados são de levantamento do Poder360 com base em informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). As informações mais recentes disponíveis sobre filiações partidárias mensais, referentes a outubro de 2023, foram atualizadas no repositório do tribunal eleitoral na 2ª feira (6.nov.2023).
Juliano Medeiros, presidente do Psol de 2018 a outubro de 2023, credita parte do crescimento ao fato de os psolistas serem parte da base governista.
“O fato de sermos parte da base do governo do presidente Lula, mas mantendo nossa combatividade e compromisso com o programa eleito em 2022, tem fortalecido o Psol como alternativa para uma série de novos ativistas que veem no nosso partido uma esperança de renovação da esquerda”, afirma.
Medeiros também diz que não houve “nenhuma campanha específica” de filiação nos últimos meses e que o crescimento do partido foi “orgânico”. “É inegável a tendência de crescimento do Psol, especialmente entre ativistas de movimentos sociais e juventude”, afirma.
ESTRELAS PARTIDÁRIAS
O aumento ou perda de filiados depende muito de políticos que são bem-sucedidos nas eleições.
No caso das 5 legendas que mais agregaram filiados, o caso do Podemos é peculiar. Os 2 grandes nomes que estiveram no partido já deixaram a agremiação. O senador Sergio Moro (PR) foi eleito pelo União Brasil, mas esteve até 2022 (antes do limite permitido pela legislação eleitoral) filiado ao Podemos.
O ex-procurador da República Deltan Dallagnol teve grande votação (344.917 votos) e foi eleito pelo Paraná. Ele tomou posse, mas sua candidatura foi cassada pelo TSE e Deltan deixou o partido.
Dessa forma, ficou como estrela da legenda a senadora Soraya Thronicke (MS), eleita em 2018 pelo antigo PSL (partido de Jair Bolsonaro naquela eleição), mas que acabou depois decidindo se filiar ao Podemos –abandonando o bolsonarismo e hoje atuando como linha auxiliar do lulismo no Congresso.
O Solidariedade é uma legenda que tem como esteio o sindicalismo, sobretudo da Força Sindical. As agremiações de trabalhadores ajudam na coleta de assinatura para que a legenda tenha mais filiados e isso explica um pouco o aumento expressivo de associados.
Até porque, Paulo Pereira da Silva, grande estrela da legenda, sequer conseguiu ser eleito em 2022. Ele ficou como suplente de deputado federal por São Paulo e deve assumir uma cadeira agora, pois 1 eleito pelo Solidariedade foi cassado pela Justiça Eleitoral.
No caso do Psol, o deputado federal Guilherme Boulos (SP) representa para parte do eleitorado de esquerda o que foi o PT nos anos 1980, com discurso mais radical e fazendo apelos mais diretos a esse grupo demográfico.
O PL teve como grande trunfo os votos dados a Jair Bolsonaro para presidente em 2022 e a maior bancada eleita de deputados federais.
No PT, houve 1 ressurgimento da legenda depois que Lula foi solto da cadeia após passar 580 dias preso. A legenda também conquistou uma bancada de deputados expressiva em 2022, sobretudo também por causa de governadores eleitos no Nordeste, como Jerônimo Rodrigues, na Bahia.
PT MANTÉM A BASE
Enquanto o PL teve variação positiva de 5% de seus filiados, o PT (Partido dos Trabalhadores), que representou oposição direta ao partido liberal na última eleição presidencial, em 2022, teve crescimento marginal de 9.602 filiados. Em larga medida, manteve sua base.
Atualmente, o PT é o 2º maior partido brasileiro, com um total de 1.617.445 filiados. Perde apenas para o MDB, que tem 2.054.436 integrantes. O PL ocupa o 9º lugar.
Para Maria do Socorro Sousa Braga, professora do setor de Ciência Política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) que pesquisa instituições e comportamento político, a estagnação dos inscritos no PT demonstra que sua base é engajada, mas que novas adesões não estão chegando na ponta.
MAIORES QUEDAS DE FILIAÇÃO
Desde outubro de 2022, os partidos que perderam filiados são maioria no Brasil. Das 30 agremiações, 19 perderam inscritos.
A maior queda de filiados desde 2022 foi no PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), que fechou outubro deste ano com 26.258 políticos a menos. O partido está diminuindo e tenta se fundir ao Patriota, mas o processo ainda não foi concluído.
É seguido pelo MDB, que teve variação negativa de 21.833 políticos, e pelo PDT, que perdeu 20.165 filiados desde 2022.
A tendência, de modo geral, é de queda de inscritos. Desde 2020, o total de filiados em siglas no Brasil tem caído, passando de 16.453.092 naquele ano e chegando aos atuais 15.848.558.
O levantamento leva em consideração, para a análise de perda de filiados, apenas os partidos que ainda existem, uma vez que, no caso de partidos fundidos ou que deixaram de existir, a perda de filiados é total.
APENAS 11 PARTIDOS CRESCERAM DESDE 2022
As outras 11 siglas cresceram. São elas: Podemos, Solidariedade, Psol (Partido Socialismo e Liberdade), PL (Partido Liberal), PT (Partido dos Trabalhadores), Republicanos, Rede Sustentabilidade, Novo, UP (Unidade Popular pelo Socialismo), PSD (Partido Social Democrático) e o PCO (Partido da Causa Operária).