Bolsonaro recebe apoio da mais poderosa confederação do agro e critica possível aumento de terras indígenas

Publicado 10.08.2022, 11:43
Atualizado 10.08.2022, 19:01
© Reuters. 09/08/2022
REUTERS/Carla Carniel

SÃO PAULO (Reuters) -O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição em outubro, recebeu apoio nesta quarta-feira da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em evento que ganhou ares de comício eleitoral, no qual criticou uma possível ampliação da demarcação de terras indígenas no país.

"Se isso for aprovado no Supremo --temos trabalhado para que não seja aprovado--, mas se for aprovado, eu vou ter que cumprir? Esta medida, caso seja aprovada, é um crime de lesa-pátria, é ou não é? Fiquem tranquilos, eu sei o que tem que ser feito", afirmou Bolsonaro, que recebeu aplausos dos presentes.

O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu em setembro do ano passado, após um pedido de vista, o julgamento da ação que discute o marco temporal das terras indígenas. Por este entendimento, só é possível reivindicar a demarcação de terras indígenas que eram ocupadas por indígenas à época da Constituição de 1988.

No evento na CNA, foram apresentadas propostas da entidade para os candidatos à Presidência, mas a cerimônia acabou se transformando em uma demonstração de força de Bolsonaro ao lado do agro, um setor que tem sido buscado pelo ex-presidente e líder das pesquisas de intenção de voto para o Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Antes da fala de Bolsonaro, o presidente da CNA --principal entidade de associações de produtores e lideranças agrícolas do Brasil--, João Martins, afirmou não haver espaço para candidatos processados e presos, em referência a Lula, que foi condenado e preso por corrupção, mas posteriormente teve suas condenações anuladas pelo STF.

Outras lideranças do agronegócio, como a deputada federal e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), candidata a uma vaga no Senado pelo Mato Grosso do Sul na eleição deste ano, o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), deputado Sérgio Souza (MDB-PR) e o atual ministro da Agricultura, Marcos Montes, também adotaram tom de comício eleitoral em seus discursos, com críticas aos governos petistas e elogios a Bolsonaro.

A demonstração de apoio ocorreu um dia antes de a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e de a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) participarem de uma manifestação em São Paulo em defesa da democracia e com críticas aos ataques que o presidente tem feito, sem provas, ao sistema eleitoral.

Em uma fala longa, Bolsonaro referiu-se a Lula como "bêbado que quer dirigir o Brasil", fez críticas aos governos petistas e repetiu alegações de que o país é ameaçado pelo comunismo e pelo socialismo.

"A proposta de regulação do setor agrícola, o cara já retirou do programa de governo dele. Malandro como sempre, sem caráter, um bêbado que quer dirigir o Brasil", disse Bolsonaro em referência a uma proposta inicialmente incluída no programa de governo de Lula sobre regulação da agroindústria.

O coordenador do programa de governo petista, Aloizio Mercadante, já afirmou que a palavra regulação estava mal posta.

"COMPREM ARMAS"

Em seu discurso no evento, Bolsonaro também disse que fará tudo para evitar o que avalia ser uma possível piora do país.

"Sou chefe da nação e não vou chegar a 2023 ou 2024 e falar: 'o que eu não fiz lá atrás para o Brasil chegar nesta situação?' Que isso custe a minha vida!", disse o presidente, que também incentivou as pessoas a comprarem armas.

"Povo armado jamais será escravizado", disse, repetindo um bordão seu. "Comprem suas armas! Comprem suas armas!... Nossa liberdade é sagrada e ela não tem limites. Não tem esse papinho de fake news", disparou.

FORÇAS ARMADAS

Bolsonaro também afirmou que em seu governo as Forças Armadas passaram a ser respeitadas e criticou a criação do Ministério da Defesa no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Eles sabem que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo, por isso o ataque, por isso a criação (do Ministério) da Defesa em 1999, não por uma necessidade militar, mas por uma imposição política, para tirar os militares da mesa de negociação", disse.

Quando da criação do Ministério da Defesa --que existe também em vários países desenvolvidos, como os Estados Unidos e várias nações europeias--, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica perderam status de ministro, passando a se reportar ao titular da Defesa.

© Reuters. 09/08/2022
REUTERS/Carla Carniel

A ideia era de enfatizar o comando civil sobre os militares. No entanto, a partir do governo Michel Temer, um general do Exército passou a comandar a pasta, prática mantida por Bolsonaro. Lula já afirmou que voltará a colocar um civil no posto.

Apesar das declarações de Bolsonaro sobre suposto desrespeito de outros governos aos militares, foram nas gestões de Lula e da também petista Dilma Rousseff que vários contratos de compra de equipamentos para reaparelhamento das Forças Armadas foram assinados, como por exemplo a compra de caças Gripen e o acordo para a produção de submarinos com vistas à fabricação de uma embarcação a propulsão nuclear. Também foi na era petista que os militares brasileiros comandaram a força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti.

(Reportagem de Eduardo SimõesEdição de Alexandre Caverni e Pedro Fonseca)

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