Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro observa em silêncio os ataques do governo da Venezuela e, até o momento, não pretende responder ao que vê como uma escalada de oratória voltada para o público interno, mas admite que as relações estão cada vez mais frágeis, de acordo com fontes ouvidas pela Reuters.
Nesta quarta-feira, o governo venezuelano chamou de volta a Caracas, para consultas, o embaixador do país em Brasília, Manuel Vadell, ao mesmo tempo e que chamou o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Caracas, Bruno Herman, para conversas na chancelaria -- a embaixadora brasileira, Glivânia de Oliveira, não está no país.
Em linguagem diplomática, o gesto é sinal de profundo desagrado com alguma atitude de outro país.
Além disso, o presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, Jorge Rodríguez, pediu que seja aprovada uma moção declarando o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, persona non grata no país. A votação deve acontecer na quinta-feira.
De acordo com uma das fontes, o Brasil, ao menos por enquanto, não planeja retribuir o gesto do governo de Nicolás Maduro. Da mesma forma, Amorim -- que na terça-feira classificou de inaceitável o fato de Israel ter classificado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como persona non grata -- optou por não responder a provocação, ao menos por enquanto.
A avaliação das fontes brasileiras é que a relação entre os dois governos vem ficando crescentemente mais difícil, mas não partirá do Brasil a decisão de romper ou congelar de vez. A visão é que é preciso manter os canais abertos para tentar ainda influenciar positivamente a situação, quando possível.
A crise atual, iniciada quando o Brasil, depois das eleições venezuelanas, passou a exigir a apresentação das atas de votação e se recusou a reconhecer a anunciada vitória de Maduro, ganhou um novo capítulo com a decisão do Brasil de vetar a entrada do país vizinho nos Brics.
Em uma audiência pública na Câmara dos Deputados na terça-feira, Amorim confirmou que o Brasil não quis a presença da Venezuela no bloco por acreditar que na atual situação o país não tem condições de contribuir ou de representar a América Latina entre os países associados.
Uma das fontes ouvidas pela Reuters avalia que, em algum momento, a "poeira vai baixar" e será possível voltar a um diálogo razoável com a Venezuela. "Não acredito que eles queiram aumentar ainda mais o isolamento", disse.