Governador reeleito do Rio com apoio do presidente Jair Bolsonaro, Cláudio Castro (PL) disse que pretende manter uma relação de cooperação com o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo, segundo ele, é "fazer com que o Rio de Janeiro deixe de ser o filho problemático da Federação".
Nesta sexta, 30, quando Bolsonaro deixou o Brasil rumo aos EUA - evitando, assim, passar a faixa presidencial ao sucessor -, Castro afirmou que vai participar da posse do petista em Brasília. Estará acompanhado do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT), com quem mantém boa relação. "Não tem como agir diferente. O povo escolheu (Lula). Vamos trabalhar juntos."
Em entrevista ao Estadão, o chefe do Executivo fluminense afirmou que já conversa com os nomes escolhidos por Lula para o Ministério do novo governo. Em um aceno ao futuro ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), Castro deve nomear um colega de partido do senador mineiro para ocupar a Secretaria de Óleo, Gás e Energia no Estado, o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ). A área é tratada por Castro como uma das prioridades do novo mandato.
O governador mantém conversas ainda com Flávio Dino (PSB), escolhido por Lula para chefiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Castro deve trabalhar com Dino medidas para conter o avanço das milícias e do narcotráfico no território fluminense.
Acusado de abuso de poder político e econômico pela Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, do Ministério Público Eleitoral, Castro disse que "reconhece a legitimidade do MP para propor as ações". Mas acusou a procuradora responsável pelo ajuizamento de querer "criar um terceiro turno". "É antidemocrático questionar uma eleição acachapante." O MP pede a cassação da chapa de Castro.
Como será a relação do senhor com o futuro governo federal?
Eu represento o maior Estado de óleo, gás, de turismo, o Estado que foi capital e onde também aconteceram os maiores escândalos. Entendo que, sobretudo agora, estou legitimado por quase 60% dos votos - diferentemente de como assumi, após aquela crise de governador afastado - para dar o protagonismo ao Rio. O Rio não pode ser mais tratado como aquele Estado que é o filho problemático. Tem de ser tratado como o orgulho do Brasil. Seremos o Estado que quer discutir de igual para igual, com qualquer um, os grandes temas do País. Estamos com as contas em dia, com a política equilibrada. Atingimos maturidade.
O senhor fala em dois pilares para o novo governo: óleo e gás e o turismo. Já trabalha com os nomes escolhidos por Lula para chefiar as pastas de Minas e Energia e Turismo?
A ministra do Turismo, Daniela do Waguinho (União Brasil), é do Rio. O Waguinho me apoiou. O alinhamento é total. Fiquei felicíssimo por ela. E o Alexandre Silveira é um grande amigo de longa data. Inclusive, teremos a Secretaria de Óleo, Gás, Energia e Indústria Naval, que será comandada pelo deputado federal Hugo Leal, que é do partido do ministro Alexandre. Vamos verticalizar para que o Rio tenha esse protagonismo. Falei com o ministro que indicaria o deputado Hugo. O MDB e o União Brasil me apoiaram. Não tivemos o apoio formal do PSD, mas tenho uma relação de longa data com o (Gilberto) Kassab (presidente do PSD). Eu sou um democrata. Eu fui eleito para trabalhar pelo Rio. O Rio não é esse balneário que as pessoas acham, não é esse local de samba, mulata e futebol. É na hora que precisa ser, mas o Rio é uma potência econômica, a terceira maior economia, é o maior em óleo e gás, o maior em turismo.
Como foram os contatos do senhor com Lula?
Um assessor meu falou com um assessor dele. Me perguntaram se eu falaria com ele. Falei: "Claro". Foi uma conversa rápida. Eu o parabenizei e ele me parabenizou. Me perguntou se eu podia ir para São Paulo na semana seguinte, porque ele estava saindo de viagem.
Os senhores não se encontraram pessoalmente?
Ele disse que chamaria os governadores no início de dezembro. Chegou a ser marcado, mas foi cancelado porque ele só queria conversar com os governadores após a posse. É da política. Não tenho problema nenhum com isso. É da política e da democracia. Eu falei muito na campanha que eu trabalharia com quem o povo escolhesse. Não tem como agir diferente. O povo escolheu (Lula). Vamos trabalhar juntos. O Rio é mais importante do que eu e ele.
E como está a sua relação com o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos?
A relação com eles é boa. O Flávio (Bolsonaro) e eu somos amigos de infância. Morávamos perto. É uma relação de muitos anos e vai continuar boa.
O senhor disse que tinha "gratidão" pelo presidente Bolsonaro. Falou com ele após a eleição?
Falei com ele três vezes. Tenho muita gratidão. Não posso negar que o presidente me ajudou muito eleitoralmente. Fui eleito, também, por ser o candidato dele. Fui eleito porque tive os prefeitos, os partidos, o Bolsonaro, tudo que compôs esses 60%. Ele falou muito pouco. O presidente está muito recluso. Perguntei como ele estava. Ele disse que estava tudo bem. Não houve um aprofundamento nas conversas.
Quais devem ser as prioridades do governo estadual no seu mandato? Já há projetos engatilhados?
Eu estou viajando para Nova York no dia 14 janeiro para trazer a Bolsa Verde. Vamos assinar. O Rio pós-concessão da Cedae é um Rio que começa a se estabilizar. A concessão da Cedae é o maior projeto ambiental da história do Rio. Estamos totalmente incluídos na agenda ambiental. O turismo verde é o futuro assim como a economia verde. O Rio não vai deixar esse filão passar. Queremos ser o maior hub de logística do Brasil, sobretudo por meio do Porto do Açu. Por isso levaremos a ferrovia para lá. Já está na agulha para assinar. O Porto de Açu não é só petróleo. É gás, energia, nitrogênio, fertilizante. A rota 4B do gás é uma das nossas pautas com o governo federal. O Rio tem condição de consumir toda a rota 4B. Já determinei que foco nos lixões também para não deixar que esses locais virem bolsões de prejuízo ambiental.
O MP eleitoral entrou com duas ações pedindo a cassação do senhor e do seu vice por abuso de poder econômico. O senhor teme não terminar o mandato como seus antecessores?
O Ministério Público tem o direito de litigar. Tem de tomar cuidado para não criar um terceiro turno. Ela (procuradora Neide Cardoso) fala na investigação de mais de uma centena de pessoas ligadas a partidos de esquerda e não denuncia ninguém da esquerda. Acho que ela tinha de responder para a sociedade. Se ela achou gente dos dois campos empregada (no caso de funcionários fantasmas no Ceperj/Uerj), por que ela só denunciou de um campo? Ela fala em atos antidemocráticos. As instituições não podem tomar atos antidemocráticos. É antidemocrático questionar uma eleição acachapante e expressiva. Tem de tomar cuidado para que a promotora não esteja fazendo um ato antidemocrático, em questionar a eleição. O resultado da eleição é inquestionável. Querer questionar isso é abrir terceiro turno e não respeitar uma parte maciça dos eleitores do Rio de Janeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.