Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao Brasil no domingo, após aproveitar os holofotes de uma viagem internacional, para enfrentar a difícil tarefa de definir os nomes de seu governo em meio ao nervosismo nos mercados financeiros e algumas divisões em sua aliança.
Enquanto Lula era aplaudido por aliados em Portugal e na cúpula da ONU sobre o clima, as difíceis escolhas que enfrenta em casa ameaçavam estragar o clima pós-eleição.
O real caiu cerca de 5% e o índice de referência Ibovespa caiu quase 8% nas últimas duas semanas, com os investidores impacientes com a falta de clareza sobre as principais políticas econômicas de Lula.
Membros da equipe de transição de Lula expressaram opiniões divergentes sobre as conversas envolvendo a chamada PEC da transição e a disputa pela presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O presidente eleito tem apoiado os esforços para criar uma exceção ao teto de gastos, enquanto há cobranças por uma nova âncora fiscal.
"São dois Lulas: o Lula de consumo externo e o Lula nosso aqui do Brasil. O de consumo externo é... uma lenda, que aparece muito bem, muito forte, muito firme. No Egito, no discurso aparece o estadista Lula retomando o protagonismo do Brasil no cenário internacional, o que é importante. Mas aqui a coisa está muito complicada”, disse o analista André César, da Hold Assessoria Legislativa, uma consultoria de risco político.
Ele disse que a primeira visita de Lula a Brasília neste mês foi rápida, sem reuniões extensas para consolidar uma ampla frente política que ele precisa para governar, já que seus aliados de esquerda são minoria no Congresso.
"O mito Lula está sendo testado", acrescentou César.
Lula foi recebido como uma estrela de rock nas negociações climáticas da ONU em Sharm el-Sheikh, prometendo reprimir o desmatamento na Amazônia, onde a extração ilegal de madeira e a mineração de ouro aumentaram no governo do presidente Jair Bolsonaro.
Para os críticos, no entanto, a lua de mel presidencial no exterior foi um erro.
"O Lula não devia ter ido ao Egito. Os problemas aqui são muitos, a coisa não vai bem e o país está em ebulição", disse o deputado José Medeiros, do PL, partido de Bolsonaro, que deve se tornar o maior partido da oposição quando o novo governo toma posse em 1º de janeiro.
Até aliados de Lula se mostram ansiosos com a lentidão das decisões, com tensões crescentes entre os assessores sobre o equilíbrio entre o lado social e a disciplina fiscal.
Ressaltando as tensões na equipe de transição, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula e de Dilma Rousseff, deixou seu trabalho de voluntário na equipe de transição na quinta-feira passada em meio a críticas sobre seu histórico em política fiscal e sua resistência ao indicado do Brasil para comandar o BID, Ilan Goldfajn, que acabou eleito no domingo.
(Reportagem de Anthony Boadle)