Guillermo Francos, principal articulador da campanha do candidato à Presidência da Argentina Javier Milei (La Libertad Avanza), disse não saber de uma possível interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na campanha eleitoral argentina. Milei afirmou, em entrevista à emissora La Nación+ na 2ª feira (6.nov.2023), que o chefe do Executivo brasileiro estava “interferindo” na campanha e “financiando” parte dela.
“O que sei é que existe uma equipe especialista em campanhas negativas que trabalha para [Sergio] Massa [adversário de Milei no pleito], uma equipe brasileira, com muitas pessoas na Argentina e outras pessoas trabalhando no Brasil [para Massa]”, declarou Francos em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta 4ª feira (8.nov). “Não posso dizer que Lula tenha alguma ingerência nisso, porque não tenho conhecimento disso, apenas o que comentou Javier Milei”, completou.
Segundo Francos, as declarações de Milei “talvez” tenham relação com “as posições ideológicas” de Lula, que são “diferentes” das do candidato argentino. “Agora, se Lula estiver, de fato, participando da campanha argentina, seria um erro, pensando no futuro de nossas relações”, afirmou.
Não há provas de que Lula tenha colaborado com a campanha do candidato peronista. A princípio, um empréstimo de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões) feito em julho pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina à Argentina foi alvo de especulações. Depois, ficou comprovado que a iniciativa não foi apenas do Brasil, mas do conjunto de países que compõem a organização.
Sobre os consultores, marqueteiros brasileiros estão atuando na campanha presidencial do país vizinho. Chico Kertész, que trabalhou com Lula em 2022; Otávio Antunes e Raul Rabelo, que fizeram parte de campanhas do ministro Fernando Haddad (PT); e Halley Arrais, que atendeu o ex-deputado Edegar Pretto (PT-RS), integram o marketing da equipe de Massa.
Francos disse que a eleição está com “o final aberto”, mas que tem confiança na vitória de Milei. O 2º turno está marcado para 19 de novembro.
“Não sabemos quantos pontos percentuais [em matéria de intenções de voto] separam um candidato do outro, estão circulando diferentes pesquisas. Mas é difícil acreditar nelas, algumas pretendem confundir ou gerar abstenção, existem muitas operações políticas com as sondagens”, declarou.
“Com tanta campanha negativa, tanta estratégia, acho que existe de tudo. Existem os que dizem que Milei está ganhando para que muitas pessoas não votem, porque acham que Milei vai ganhar a eleição. Por outro lado, outras pesquisas podem dizer que Massa está na frente para se projetar como vencedores e conseguir uma adesão maior”, completou.
Leia mais:
- Pesquisas têm resultados opostos sobre Massa e Milei.
Francos disse que Milei vai conversar “atores da política argentina que expressaram seu apoio” caso vença, mas que ele “sempre deixou claro que algumas questões não são negociáveis, entre elas a dolarização e a eliminação do Banco Central”.
Conforme o articulador, “Milei se coloca como a alternativa de mudança, e tenta chegar a todos os setores que querem essa mudança”.
Leia mais sobre a eleição na Argentina:
- Vitória de Milei pode frear “onda de esquerda” na América do Sul;
- Produtores de cinema na Argentina respondem a Milei;
- PT divulga nota de apoio a Massa nas eleições da Argentina.
QUEM É MILEI
Javier Gerardo Milei tem 52 anos e é formado em economia. Ele liderou com 30,4% dos votos a eleição primária de 13 de agosto de 2023 na disputa pela Presidência da Argentina. No 1º turno das eleições, realizado em 22 de outubro, ficou em 2º lugar, com 29,98% dos votos.Milei está à direita no espectro político ideológico, com ideias liberais na economia. Defende fechar o Banco Central do país, acabar com o peso e usar o dólar dos EUA como moeda local.
O candidato concorre à Casa Rosada pela coalizão La Libertad Avanza (em português, A Liberdade Avança). Milei se autodefine como “anarcocapitalista” e “libertário” –é contra a interferência do Estado na sociedade e a favor do sistema de livre mercado. Diz que seu programa será uma “motosserra” para cortar gastos públicos. Afirma que o aquecimento global é uma mentira, é a favor da venda de órgãos e defende o sistema de educação não obrigatório e privado.