O diretor do escritório de Nova York do ACNUDH (Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos), Craig Mokhiber, pediu demissão em protesto aos ataques à Faixa de Gaza. As informações são do Guardian.
Em carta enviada ao alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, Mokhiber disse que a atual situação no território palestino é um “caso clássico de genocídio”. O documento, de 28 de outubro, foi compartilhado por um jornalista no X (ex-Twitter) na 3ª feira (31.out.2023).
NEW: @UNHumanRights NY Office Director @CraigMokhiber resigns in protest over timidity of key parts of #UN system on issues pertaining to Palestinian Human Rights. In letter to @volker_turk he says: “This is a text-book case of genocide. The European, ethno-nationalist, settler… pic.twitter.com/lss1EvdLb3— Rami Ayari (@Raminho) October 31, 2023
No texto, o advogado especializado em direito internacional também afirmou que a ONU falha em conter a prática, citando genocídios anteriores contra tutsis na Ruanda, muçulmanos na Bósnia, yazidis no Curdistão e os rohingya em Mianmar.
“Em cada caso, quando a poeira baixou sobre os horrores cometidos contra populações civis indefesas, tornou-se dolorosamente claro que havíamos falhado em cumprir nosso dever de prevenção de atrocidades em massa, de proteção dos vulneráveis e de responsabilização dos agressores. E assim tem sido com sucessivas ondas de assassinatos e perseguições contra os palestinos ao longo de toda a vida da ONU. Alto comissário, estamos falhando novamente”, disse.
Mokhiber também afirmou que os governos dos Estados Unidos, Reino Unido e grande parte da Europa eram “cúmplices” dos ataques à Palestina.
“Esses governos não só se recusam a cumprir suas obrigações ‘para assegurar o respeito’ do tratado sob as Convenções de Genebra, como também estão ativamente armando o ataque, fornecendo apoio econômico e de inteligência e dando cobertura política e diplomática às atrocidades cometidas por Israel”, afirmou se referindo aos tratados formulados em Genebra (Suíça), que definiram normas para as leis internacionais referentes ao Direito Humanitário Internacional.
O ex-diretor da ONU não cita, no documento, o ataque do Hamas contra Israel, que deu início a guerra. Ele pede ainda o apoio ao estabelecimento de um “Estado secular único e democrático em toda a Palestina histórica, com direitos iguais para cristãos, muçulmanos e judeus”.
Um porta-voz da ONU disse, em declaração enviada ao Guardian, que o conteúdo da carta se trata de “opiniões pessoais” de Mokhiber. O representante das Nações Unidas também afirmou que o advogado já havia comunicado em março de 2023 que se aposentaria neste ano. Segundo o funcionário, a medida entra em vigor nesta 4ª feira (1º.nov).
QUEM É CRAIG MOKHIBER
O especialista em direito, política e metodologia internacional de direito humanos começou a trabalhar na ONU em 1992. Foi chefe da Equipe de Direitos Humanos e Desenvolvimento na década de 1990 e liderou o desenvolvimento do trabalho do ACNUDH sobre abordagens baseadas nos direitos humanos.
Craig Mokhiber também atuou como conselheiro sênior de Direitos Humanos da ONU na Palestina, no Afeganistão e no Sudão. Ele morou em Gaza na década de 1990.