Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) -Eleitores foram às urnas neste domingo para escolher os prefeitos e vereadores das 5.569 cidades brasileiras, em um pleito que deve começar a colocar as peças no tabuleiro político para as eleições para governos estaduais, Congresso Nacional e a Presidência da República daqui a dois anos.
De norte a sul do Brasil, mais de 155 milhões de eleitores escolherão entre mais de 15 mil postulantes a prefeito e mais de 431 mil pretendentes para os 58.444 assentos em câmaras municipais em todo o país, em uma mega operação logística realizada pela Justiça Eleitoral.
As urnas foram abertas às 8h (horário de Brasília) e fecharam às 17h, quando foi iniciada a apuração.
Em 103 cidades com mais de 200 mil eleitores um segundo turno de votação para prefeito pode ocorrer no dia 27 de outubro, a não ser que um dos candidatos conquiste mais da metade dos votos válidos já neste domingo.
O resultado do pleito municipal deve estabelecer as bases para os partidos começarem a pensar na montagem de suas chapas e palanques para as disputas para deputado federal em 2026. As bancadas que serão eleitas em dois anos servirão de critério para a distribuição dos recursos partidários.
Para muitos eleitores, no entanto, a maior importâncias da disputa municipal é escolher aqueles que cuidarão melhor da vida dos moradores nos municípios agora.
"Votei em quem gosto e simpatizo sem pensar na eleição de 2026. Não sabemos nem quem vai estar lá. Eu sei que tenho que acordar cedo todo dia pra pagar minhas contas. Dois anos para frente é muita coisa. Eleição de hoje é o agora e pronto", disse o motorista de aplicativo Antônio Santos ao sair de um local de votação no Rio de Janeiro.
Caso se confirmem os números de pesquisas eleitorais divulgadas às vésperas do pleito, a apuração deverá mostrar um fortalecimento de partidos do chamado centro e de nomes da direita com retórica antissistema, muitos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro, que votou na vila militar do Rio de Janeiro, demonstrou confiança em ver seus candidatos avançando para o segundo turno em diversas capitais.
"Estamos com expectativa de segundo turno em vários municípios. Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Manaus. Acredito que em Alagoas, em Maceió tá garantido, talvez no primeiro turno. Primeiro turno também em Rio Branco, no Acre", afirmou.
O cômputo geral deste domingo pode não ser alvissareiro para a esquerda, campo político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em grande parte manteve-se afastado de eventos de rua e teve atuação discreta na campanha municipal em geral.
Fator bastante presente em eleições anteriores no país, especialmente do pleito municipal de 2016 para cá, candidatos com discurso antissistema voltaram a se fazer presentes e a mostrar força neste ano, em alguns casos com chances significativas de sucesso eleitoral.
Em São Paulo, de longe a maior cidade do país em termos populacionais e terceiro maior Orçamento público do Brasil atrás apenas da União e do Estado de São Paulo, o ex-coach e influenciador digital Pablo Marçal (PRTB) assumiu esse papel e embaralhou uma disputa que inicialmente parecia ser um duelo indireto entre Lula, representado por Guilherme Boulos (PSOL), e Bolsonaro, que deu seu apoio ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
Com uma retórica agressiva, marcada por apelidos desrespeitosos colocados em adversários e por acusações sem provas contra rivais, Marçal conquistou notoriedade -- apesar de estar em um partido nanico sem tempo de TV -- e um lugar na disputa por uma vaga no segundo turno, juntando-se a Boulos e Nunes.
Lançando mão de uma forma heterodoxa de fazer campanha, Marçal fez com que episódios como a cadeirada que levou durante um debate do candidato José Luiz Datena (PSDB), após afirmar que o rival não era homem para agredi-lo, e do soco que um assessor seu desferiu no marqueteiro de Nunes após outro debate, ganhassem as manchetes em todo país e se tornassem marca de uma campanha que se revelou pobre na apresentação de propostas para a cidade.
Após votar em São Bernardo do Campo (SP), seu berço eleitoral, o presidente Lula criticou as notícias falsas e candidatos que fazem campanha com base em mentiras e ataques, numa possível alusão a Marçal.
Lula, que fez campanha para Boulos para a prefeitura de São Paulo, não usou adesivos ou fez referências diretas a candidatos, mas defendeu a experiência do PT em governar cidades do ABCD Paulista, e estava ao lado do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, candidato do PT em São Bernardo, berço político do presidente.
"Enquanto existir democracia existirá o direito do povo escolher. Para o bem e para o mal, é o povo que vai escolher. Se ele tiver boas informações ele sempre vai escolher para o bem. O que não podemos permitir é que o povo vote desinformado, que a gente vote sem que a gente saiba em quem está votando", afirmou.
O domingo deve ser marcado também pela reeleição já em primeiro turno de prefeitos em importantes capitais -- casos do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes (PSD); Recife, com João Campos (PSB), e Salvador, com Bruno Reis (União).
Em outras, no entanto, o atual ocupante da cadeira deve ficar fora de uma rodada decisiva de votação, casos de Belém, de Edmilson Rodrigues (PSOL), e Fortaleza, de José Sarto (PDT). Na capital cearense, inclusive, o duelo de segundo turno deve ser entre um petista, Evandro Leitão, e um bolsonarista, André Fernandes (PL).
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as eleições correram de forma tranquila por todo país.
O Ministério da Justiça e da Segurança Pública informou que 108 eleitores e 14 candidatos foram presos por crimes eleitorais, principalmente propaganda irregular e compra de votos.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de JaneiroEdição de Pedro Fonseca e Alexandre Caverni)