Por Lisandra Paraguassu
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, em reunião de cúpula dos países do Brics, que o bloco de países emergentes avance na criação de meios de pagamento alternativos entre si, fugindo da necessidade de uso do dólar.
"Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada", afirmou Lula em discurso por videoconferência na cúpula.
O presidente teve que cancelar sua participação presencial no evento realizado na cidade russa de Kazan depois de ter sofrido um acidente doméstico no sábado, em que bateu a cabeça. Por ordens médicas, por ter tido um pequeno sangramento no cérebro, Lula não pode viajar de avião e segue em observação em Brasília, mas tem mantido agenda de trabalho.
O desenvolvimento de um mecanismo de compensação de pagamentos em moedas locais é uma das prioridades do Brasil no Brics, que quer ver o bloco menos dependente do uso do dólar nas suas transações internas. O Brasil assume a presidência do bloco a partir de agora e durante o próximo ano, e tem a intenção de acelerar essa proposta e também ampliar a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco do Brics, atualmente presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Em seu discurso, Lula defendeu, também, o avanço do mecanismo de cooperação interbancária dos países membros do Brics, para estabelecer linhas de crédito em moedas locais, voltadas principalmente para pequenas e médias empresas.
Lula afirmou ainda que o NDB (sigla em inglês do banco do Brics) rompe com a lógica das instituições financeiras tradicionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"O Brics foi responsável por parcela significativa do crescimento econômico mundial nas últimas décadas. Juntos, somos mais de 3,6 bilhões de pessoas, que integram mercados dinâmicos com elevada mobilidade social. Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite", lembrou Lula.
"Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido. As iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica."
O presidente afirmou ainda que o lema da presidência brasileira dos Brics será "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável", na linha da reforma das instituições globais já defendida pelo país durante a presidência do G20, este ano.
Lula também usou seu discurso para mais uma vez criticar as guerras atualmente em curso.
"Como disse o presidente (da Turquia, Tayyip) Erdogan, na Assembleia Geral da ONU, Gaza se tornou 'o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo'. Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia", defendeu.
"No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns."
(Por Lisandra Paraguassu, em Brasília)