O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Manuel Palácios, disse nesta 4ª feira (8.nov.2023) que os candidatos do Enem não precisam concordar com os temas abordados na prova, apenas “compreender um determinado texto“. A declaração foi feita depois de a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) pedir a anulação de duas questões do exame deste ano que continham críticas ao agronegócio.
“Ninguém precisa concordar com o suporte do item, nem o item está perguntando se o estudante concorda. A questão quer saber se o estudante é capaz de compreender um determinado texto”, afirmou Palácios em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
O presidente do órgão responsável pela elaboração do exame afirmou, ainda, que a prova deste ano foi elaborada por professores universitários selecionados em edital de 2020, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Os professores selecionados por critérios públicos abordam textos que têm circulação na vida brasileira, na universidade, nas escolas, na vida científica. Ninguém precisa concordar”, declarou.
A polêmica gira em torno de duas questões da 1ª etapa do Enem 2023, realizado no último domingo (5.out.2023). No item 89 da prova, o enunciado abordava a territorialização do agronegócio. A questão dizia que o fenômeno “subordina homens e mulheres à lógica do mercado”, além de colaborar para a “violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.
Já um texto no item 70 da mesma prova diz que a relação entre o crescimento do desmatamento com a expansão da soja é “evidente”, além de afirmar que a “lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas”.
“A vinculação de crimes a atividades legais no Brasil é um critério de retórica política para encobrir a ausência do Estado no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e de combate a ilegalidades”, afirmou a Frente Parlamentar da Agropecuária em nota que pedia a anulação das questões.
Palácios, no entanto, afirmou que as questões só podem ser anuladas caso prejudiquem os candidatos em algum sentido.
“O que justifica a anulação é o caso de um item não ter uma resposta correta bem construída, ou se ele não produz informação relacionada efetivamente com a habilidade avaliada, que é parte do currículo”, disse o presidente do Inep.
Palácios deve ir nesta 4ª feira (8.nov) à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para responder aos questionamentos. A FPA informou que também pedirá a convocação do ministro da Educação, Camilo Santana (PT).