Por Lisandra Paraguassu e Gabriel Stargardter
BRASÍLIA (Reuters) - Diplomatas norte-americanos informaram ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que os Estados Unidos pretendem reconhecer rapidamente o vencedor das eleições brasileiras, em uma tentativa de desencorajar questionamentos dos resultados que possam levar a uma crise institucional ou a caos no país, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
Na última quarta-feira, durante a reunião em São Paulo entre Lula, que lidera a corrida eleitoral para voltar à presidência, e Douglas Koneff, o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, o tema foi um dos assuntos centrais.
O ex-presidente, de acordo com uma das fontes, comentou que o reconhecimento do resultado seria um movimento importante para tentar minimizar o ímpeto de contestar a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que tem insistido, sem provas, que o sistema de votação eletrônico é passível de fraude.
Lula ouviu do diplomata norte-americano que a intenção de Washington é reconhecer o vencedor das eleições, independentemente de qual o resultado, assim que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fizer o anúncio oficial.
Na última quinta-feira, durante encontro com embaixadores de cerca de 20 países da América Latina e Caribe, o ex-chanceler Celso Amorim, assessor internacional de Lula, ouviu de vários diplomatas da região a mesma garantia de um reconhecimento rápido do resultado das eleições.
O recado foi passado a Amorim em conversas laterais ou nas despedidas da reunião que, oficialmente, foi marcada para apresentar aos embaixadores as ideias de Lula sobre política externa em um eventual novo governo.
De acordo com uma fonte que presenciou as conversas, a mensagem dos diplomatas foi a de que seus países consideram importante um posicionamento internacional para ajudar a evitar questionamentos sobre o processo eleitoral.
EFEITO CAPITÓLIO
Ainda sob os efeitos do ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio por partidários do ex-presidente republicano Donald Trump, o governo do democrata Joe Biden tem revelado crescente preocupação com as acusações de Bolsonaro a respeito de riscos de fraudes nas eleições, feitas sem qualquer fundamento.
Em visitas ao país de assessores de alto escalão, o governo norte-americano fez chegar a Bolsonaro que tentativas de perturbar o processo não eram bem vistas em Washington.
Como mostrou a Reuters em maio, o diretor da CIA, William Burns, disse a auxiliares próximos do presidente, durante visita ao Brasil, que o mandatário brasileiro deveria parar de questionar o sistema de votação. O recado não foi bem recebido no Palácio do Planalto.
A nove dias das eleições, Lula voltou a aumentar a vantagem em relação a Bolsonaro e está na frente nas pesquisas de intenção de voto com diferenças que vão até 16 pontos percentuais. De acordo com o Datafolha desta quinta-feira, o petista mantém a chance matemática de liquidar a eleição no primeiro turno.
Já Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre o processo eleitoral com mais intensidade nos últimos dias, depois de um período de relativa calmaria.
No mais recente episódio, afirmou que, se não vencer as eleições no primeiro turno, estaria acontecendo "algo muito errado no TSE" --apesar de não haver nenhum indício nas pesquisas de que possa estar liderando a contenda, nem no primeiro nem no segundo turno.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Gabriel Stargardter; Reportagem adicional de Anthony Boadle)