O deputado federal André Janones (Avante-MG) foi acusado, nesta 4ª vez (29.nov.2023), por outro ex-assessor de participar de um suposto esquema de “rachadinha“. Fabrício Ferreira de Oliveira divulgou áudios gravados em maio de 2020 em que ele e um colega, que ele identifica como o também ex-assessor Alisson Camargos, conversam sobre ter que entregar uma quantia em espécie de seu salário a Janones.
“Esse mês tenho que passar R$ 4.000 para eles. É aquele mesmo esquema, dar R$ 4.000 para Leandra e ela pega o dinheiro e passa para o André (Janones)”, afirma Oliveira na gravação.
Ouça (14min15s):
A mulher citada é Leandra Guedes (Avante), ex-assessora do congressista. Ela foi secretária parlamentar de Janones de abril de 2019 a agosto de 2020. Atualmente, é prefeita de Ituiutaba (MG), cidade onde o deputado nasceu e berço do seu grupo político.
Ao Poder360, Fabrício de Oliveira disse que quem não repassava o dinheiro sofria represálias e era ameaçado de exoneração. Em uma das gravações, os ex-assessores indicam que teriam até o dia 14 do mês para fazer a entrega.
A quantia repassada por cada um dos funcionários variava e dependia do salário que recebiam. O vencimento de Oliveira, por exemplo, era de R$ 10.444, já Leandra, há mais tempo ao lado de Janones, recebia pouco mais de R$ 32.000.
Segundo o ex-assessor, além de Leandra, a ex-secretária parlamentar Letícia Fernandes Garcia também era responsável por receber o dinheiro. Letícia ocupou o cargo de secretária-parlamentar no gabinete em 3 momentos diferentes de fevereiro de 2019 a dezembro de 2020. Em 2021, foi nomeada secretária municipal de Obras e Serviços Urbanos de Ituiutaba por Leandra.
Contatado pelo Poder360, o gabinete da prefeitura de Ituiutaba afirmou que Leandra Guedes não tem conhecimento dos episódios divulgados nos áudios dos ex-assessores de Janones. Disse ainda que não tem envolvimento em nenhuma atividade ilícita.
Durante uma das conversas gravadas por Oliveira, os ex-assessores demonstram ter receio de estarem envolvidos em um esquema da “rachadinha”.
“Eu tava vendo esse negócio aí de rachadinha e esse trem (sic) da B.O. (expressão que indica que algo pode gerar problema ou confusão) até para o assessor”, diz Oliveira. O seu interlocutor concorda.
Ouça (5min41s):
Os ex-funcionários de Janones também declaram estar insatisfeitos com a conduta do congressista durante a conversa. “Eu estou vendo a hora de um de nós estourar com ele ali”, afirma Oliveira.
“A gente não é amigo de André mais não. É funcionário agora. Quem manda é ele”, diz o homem identificado como Alisson Camargos.
Em 2022, Oliveira disse à imprensa que ele e os colegas eram vítimas de assédio moral. À época, ele divulgou prints do que seriam conversas no WhatsApp, nas quais Janones chamava seus funcionários de “doentes mentais”, “analfabetos funcionais”, “vermes”, “desgraçados”. Segundo o registro, o deputado pedia que eles fossem advertidos por escrito.
Os supostos esquemas de “rachadinha” e assédio foram denunciados em janeiro de 2022 ao Ministério Público de Minas Gerais por Oliveira. O processo foi encaminhado para a Procuradoria Geral da República. Eis a íntegra do ofício de 2022. (PDF – 582 kB).
O ex-assessor disse que pretende “unir forças” com Cefas Luiz, ex-secretário parlamentar de Janones, para uma nova denúncia. Luiz foi responsável, na 2ª feira (27.nov), pela divulgação de áudio gravado em reunião de 2019 em que Janones propõe que seus funcionários repassem parte do salário.
O Poder360 procurou o deputado André Janones e a sua assessoria de imprensa 6 vezes das 19h56 da 3ª feira (28.nov) às 19h23 da 4ª feira (29.nov). Os contatos foram feitos por telefone e mensagem via WhatsApp. Até a conclusão e publicação deste texto, nenhuma resposta foi recebida. Quando e se desejar expressar sua posição, este post será alterado para incluir a sua declaração a respeito do caso.
O jornal também entrou em contato com Alisson Camargos, que faria parte da conversa gravada por Fabrício de Oliveira, por e-mail e telefone. Não obteve resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
CAMPANHAS
Na 3ª feira (28.nov), André Janones se defendeu das acusações de Cefas Luiz dizendo que havia proposto aos funcionários de seu gabinete uma “vaquinha” para ajudá-lo a custear as dívidas adquiridas durante suas campanhas de 2016 e 2018, para prefeitura de Ituiutaba e deputado federal, respectivamente.
O congressista disse que não seria justo pagar sozinho pelo dinheiro que gastou para se eleger, já que seus então assessores estavam com ele durante os processos eleitorais e se beneficiaram deles.
Em entrevista ao Uol, Janones declarou que sua trajetória política havia sido construída com o apoio do grupo que fazia parte de seu gabinete. O seu grupo político teria ajudado no financiamento de suas campanhas, já que ele “não tinha recursos” e teria “vindo do 0”.
Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o próprio André Janones e o seu partido, o Avante, foram as principais fontes de suas receitas em campanhas.
Em sua 1ª candidatura, em 2016, cerca de 88% dos recursos recebidos foram um investimento de Janones. Pouco mais de 10% está no nome de Leandra Guedes, única dos seus ex-assessores que aparece nominalmente em alguma doação.
Já a campanha que o levou à Câmara dos Deputados, em 2018, teve como principais financiadores o Avante e o Progressistas. Juntos, os partidos somam 95% dos recursos recebidos por Janones. Cerca de 2% do dinheiro é proveniente de uma campanha de financiamento coletivo que contou com 143 doadores.
A assessoria de Janones não retornou ao Poder360 para explicar em qual categoria estaria o dinheiro dado pelo grupo que compôs seu gabinete.