Exportações e meio ambiente: os piores cenários para Lula com Trump

Publicado 20.01.2025, 06:01
© Reuters Exportações e meio ambiente: os piores cenários para Lula com Trump

Donald Trump (republicano) toma posse para seu 2ª mandato à frente da Casa Branca nesta 2ª feira (20.jan.2024). A maioria dos cenários, caso as falas do republicano antes de assumir o cargo se concretizem, pode causar efeitos negativos na administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Trump disse durante sua campanha, e reforçou depois, que aumentará a taxação de produtos norte-americanos vindos de países com tarifas elevadas. Isso incluiria o Brasil e a Índia, mas faz parte de uma guerra comercial com a China, seu alvo prioritário nesse tema. Ainda assim, poderia atingir direta e indiretamente a balança comercial brasileira.

Há muita incerteza, no entanto, sobre o efeito real de todas essas medidas. O ex-presidente do Banco dos Brics Marcos Troyjo, por exemplo, acha que o Brasil pode até se beneficiar.

Troyjo cita 3 frentes em que o Brasil pode se beneficiar durante o governo de Donald Trump:

  • exportações para a China – o governo dos EUA deverá limitar as importações de manufaturados chineses, que devem retaliar com menos compras de alimentos. O Brasil é o único país que pode substituir a venda desses produtos dos EUA para a China;
  • exportações para a Argentina – o país vizinho é o 3º parceiro comercial do Brasil. Tem dificuldade de pagar a dívida pública. O FMI (Fundo Monetário Internacional), que tem os EUA como principal cotista, é um dos maiores credores do país. Trump pode ajudar na solução por causa da afinidade com o presidente da Argentina, Javier Milei. A melhora da economia da Argentina favorecerá o Brasil;
  • acordo UE-Mercosul – o risco de dificuldades com o governo Trump incentivou europeus a concluir as negociações do acordo. As chances de ser aprovado são grandes pelo mesmo motivo. Troyjo tem críticas ao texto que foi concluído em dezembro de 2024. Considera pior do que o ele havia negociado e que ficou pronto em junho de 2019. Mesmo assim, ele considera que haverá grandes ganhos se o acordo for aprovado.

Os mercados estarão atentos e vão analisar com lupa as primeiras medidas do presidente eleito. Mais de 100 decretos devem ser baixados já na 2ª feira.

A cúpula do Brics, também marcada para este ano no Brasil, terá que reanalisar a proposta de trocar o dólar como moeda principal de comércio no bloco. O republicano ameaçou taxar em 100% os produtos de todos os países do grupo caso isso se concretizasse.

A interrogação ambiental

O principal evento internacional de Lula no ano é a Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudança do clima, a COP30, a ser realizada em Belém (PA), no fim do ano.

Uma possível saída dos EUA do Acordo de Paris minaria o principal palco internacional de Lula em 2025.

Ainda em 2024, às margens da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) já demonstrava preocupação com este cenário.

Em entrevista exclusiva ao Poder360, ela disse esperar que o país norte-americano continue ajudando a reduzir as emissões de gases do efeito estufa mesmo caso Donald Trump decida sair do Acordo de Paris através dos Estados, que são independentes do governo central.

“Os EUA tinham se comprometido com os US$ 50 milhões e o Brasil está na expectativa da internalização desses recursos, afinal de contas é um compromisso de Estado que não pode mudar porque mudou o governo”, afirmou Marina Silva.

Propostas políticas ambientalistas foram rejeitadas por Trump durante sua campanha presidencial de 2024. O republicano apoia a produção ilimitada de combustíveis fósseis, afirma que vai retirar o país novamente do Acordo de Paris e diz que revogará o investimento em energia limpa e o combate às mudanças climáticas instituídas pelo presidente Joe Biden (Partido Democrata).

O presidente eleito diz que seu objetivo é que os EUA tenham a energia e a eletricidade mais barata do mundo. Durante seu 1º mandato, Trump revogou mais de 100 regulamentações ambientais, incluindo legislações destinadas à redução de emissões que provocam o aquecimento global e para proteger rios, oceanos e a qualidade do ar.

Ideologia pode prejudicar

O secretário de Estado de Trump será Marco Rubio, senador da Flórida. Ele já criticou Lula e disse que Alexandre de Moraes cometeu “abusos” em suas decisões contra a Starlink e o X em carta enviada a Antony Blinken.

Elon Musk, por sua vez, chefiará o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental. O bilionário travou um embate com Moraes no ano passado que levou o X a ficar fora do ar no Brasil. Foi xingado pela primeira-dama Janja. Tem uma relação de conflito com o Judiciário e com o governo brasileiro.

Na América Latina, Trump tem uma afinidade maior com Javier Milei. Já declarou que o libertário é seu “presidente favorito”. A Argentina deve ser o ponto central da relação dos EUA com a América Latina a partir de 2ª feira.

Lula declarou em novembro torcer por Kamala Harris e sugeriu que uma vitória de Trump seria o “fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara” .

A avaliação do governo na época era que isso poderia resultar em vantagem no caso de vitória de Harris e ser irrelevante no caso de vitória de Trump. O 2º cenário será testado agora.

A democrata sofreu uma derrota acachapante para o adversário. Teve o pior desempenho para um candidato de seu partido desde 1988. Conseguiu só 226 delegados, contra 312 de Trump –que também venceu no voto popular. Os republicanos têm maioria no Senado e na Câmara.

Lula não vai à posse. É praxe que chefes de Estado não sejam convidados e enviem diplomatas para representarem o país. Trump, no entanto, quebrou o protocolo e enviou alguns convites para líderes mais alinhados a ele.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi chamado. Mas Moraes negou o pedido do ex-presidente para reaver seu passaporte e o proibiu de viajar. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro representará o ex-presidente na cerimônia. Terá tratamento especial, segundo o marido.

No sábado (18.jan), antes do embarque de Michele, o ex-presidente se emocionou ao falar que não participaria da posse do presidente eleito dos Estados Unidos. Disse aos jornalistas no local estar “chateado e abalado”.

“Obviamente seria muito bom a minha ida. O presidente Trump gostaria muito, tanto que ele me convidou. Estou chateado, abalado ainda. […] Enfrento uma enorme perseguição política por parte de uma pessoa”, afirmou Bolsonaro. Disse ainda se sentir como um “preso político”, apesar de estar sem tornozeleira eletrônica.

“Espero que a sua excelência não queira colocar em mim para humilhar de vez uma tornozeleira eletrônica. Estou, sim, constrangido. Queria estar acompanhando minha mulher”, declarou o ex-presidente se referindo ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

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