O criador do Telegram, Pavel Durov, disse que fechar o grupo do movimento extremista Hamas na plataforma poderia agravar a situação do conflito em Israel e na Faixa da Gaza. Em seu canal na plataforma, o executivo afirmou que situações “complexas” precisam ser analisadas de forma mais “aprofundada”.
“Fechar o canal ajudaria a salvar vidas –ou colocaria mais vidas em risco? É sempre tentador agir de acordo com impulsos emocionais. Mas situações tão complexas exigem uma análise aprofundada que também deve ter em conta as diferenças entre plataformas sociais”, diz o texto publicado por Durov.
Na mensagem, o empresário menciona o episódio em que o Hamas usou seu canal no Telegram para alertar civis em Ashkelon para deixarem a área antes de ataques com mísseis. O grupo extremista realizou um bombardeio surpresa a Israel no sábado (7.out). Em resposta, o país declarou guerra ao movimento.
“No Telegram os usuários recebem apenas o conteúdo que assinaram especificamente. Como tal, é improvável que os canais do Telegram possam ser usados para amplificar significativamente a propaganda”, afirma o dono do Telegram.
Durov disse também que os canais da plataforma servem como uma fonte de informação para investigadores, jornalistas e verificadores. “Embora fosse fácil destruir esta fonte de informação, fazê-lo corre o risco de agravar uma situação já terrível”, diz.
Eis a íntegra do texto:
“Todos os dias, os moderadores e as ferramentas de IA [inteligência artificial] do Telegram removem milhões de conteúdos obviamente prejudiciais da nossa plataforma. Contudo, a abordagem da cobertura relacionada à guerra raramente é óbvia.
“No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para alertar os civis em Ashkelon para deixarem a área antes de ataques com mísseis. Fechar o canal ajudaria a salvar vidas –ou colocaria mais vidas em risco?
“É sempre tentador agir de acordo com impulsos emocionais. Mas situações tão complexas exigem uma análise aprofundada que também deve ter em conta as diferenças entre plataformas sociais.
“Ao contrário de outros aplicativos que promovem algoritmicamente conteúdo chocante para pessoas desavisadas, no Telegram os usuários recebem apenas o conteúdo que assinaram especificamente. Como tal, é improvável que os canais do Telegram possam ser usados para amplificar significativamente a propaganda. Em vez disso, servem como uma fonte única de informação em primeira mão para investigadores, jornalistas e verificadores de factos.”
ENTENDA O CONFLITO
Embora seja o maior conflito armado na região nos últimos anos, a disputa territorial entre palestinos e judeus se arrasta por décadas. Os 2 grupos reivindicam o território, que possui importantes marcos históricos e religiosos para ambas as etnias.
O Hamas (sigla árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”) é a maior organização islâmica em atuação na Palestina, de orientação sunita. Possui um braço político e presta serviços sociais ao povo palestino, que vive majoritariamente em áreas pobres e de infraestrutura precária, mas a organização é mais conhecida pelo seu braço armado, que luta pela soberania da Faixa de Gaza.
O grupo assumiu o poder na região em 2007, depois de ganhar as eleições contra a organização política e militar Fatah, em 2006.
A região é palco para conflitos desde o século passado. Há registros de ofensivas em 2008, 2009, 2012, 2014, 2018, 2019 e 2021 entre Israel e Hamas, além da 1ª Guerra Árabe-Israelense (1948), a Crise de Suez (1956), Guerra dos 6 Dias (1967), 1ª Intifada (1987) e a 2ª Intifada (2000). Entenda mais aqui.
Os atritos na região começaram depois que a ONU (Organização das Nações Unidas) fez a partilha da Palestina em territórios árabes (Gaza e Cisjordânia) e judeus (Israel), em 1947, na intenção de criar um Estado judeu. As lideranças árabes não aceitaram a divisão.
ATAQUE A ISRAEL
O Hamas, grupo radical islâmico de orientação sunita, realizou um ataque surpresa a Israel no sábado (7.out). Israel declarou guerra contra o Hamas e começou uma série de ações de retaliação na Faixa de Gaza, território palestino que faz fronteira com Israel e é governado pelo Hamas.
Os ataques do Hamas se concentram ao sul e ao centro de Israel. Caso o Hezbollah faça novas investidas na fronteira com o Líbano, um novo foco de combate pode se estabelecer ao norte de Israel.
O tenente-coronel israelense Richard Hecht afirmou que o país “olha para o Norte” e que espera que o Hezbollah “não cometa o erro de se juntar [ao Hamas]”.
Saiba mais sobre a guerra em Israel:
- o grupo extremista Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel em 7 de outubro e assumiu a autoria dos ataques no dia seguinte;
- cerca de 2.000 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza. Extremistas também teriam se infiltrado em cidades israelenses –há relatos de sequestro de soldados e civis;
- Israel respondeu com bombardeios em alvos na Faixa de Gaza;
- o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou (8.out) guerra ao Hamas e falou em destruir o grupo;
- líderes mundiais como Joe Biden e Emmanuel Macron condenaram os ataques –entidades judaicas fizeram o mesmo;
- Irã e o grupo extremista Hezbollah comemoraram a ação do Hamas –saiba como é o interior de túneis usados pelo Hezbollah na fronteira entre o Líbano e Israel;
- o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, determinou na 2ª feira (9.out) um “cerco completo” à Faixa de Gaza. Segundo a ONU, ação é proibida pelo direito humanitário internacional;
- o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky comparou o conflito à guerra na Ucrânia. Afirmou que o Hamas é uma “organização terrorista”, enquanto a Rússia pode ser considerada um “Estado terrorista”;
- Lula chamou os ataques do Hamas de “terrorismo”, mas relativizou episódio;
- embaixada de Israel no Brasil chamou Hamas de “ramo” do regime iraniano;
- Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, também se pronunciaram e fizeram apelo pela paz;
- Bolsonaro (PL) repudiou os ataques e associou o Hamas a Lula;
- o Itamaraty confirmou a morte de 2 brasileiros; 1 segue desaparecido;
- ENTENDA – saiba o que é o Hamas e o histórico do conflito com Israel;
- ANÁLISE – Conflito é entre Irã e Israel e potencial de escalada é incerto;
- OPINIÃO – Dias incertos para o mercado de petróleo, escreve Adriano Pires;
- FOTOS E VÍDEOS – veja imagens da guerra na playlist especial do Poder360 no YouTube.