O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que é preciso haver um “olhar mais consistente” sobre a dinâmica das despesas. Em entrevista ao Poder360, falou sobre o tema ao ser questionado sobre a necessidade de fazer um ajuste fiscal pelo lado dos gastos e se as medidas tomadas pela parte das despesas não seriam “tímidas”.
“Não colocaria adjetivos na adoção [de medidas]. Acho que há estágios. Um 1º estágio de medidas envolvem ações administrativas para reduzir ali alguns beneficiários que eram inelegíveis, algumas fraudes. [Isso] está sendo conduzido”, declarou.
Ceron também disse que o mercado financeiro tem um “grau de incerteza” e “inquietude” sobre a trajetória dos gastos. Declarou, contudo, ser necessário assegurar a “dinâmica dessas despesas de uma forma sustentável”.
Em 26 de setembro, a IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado afirmou que o projeto do Orçamento de 2025 tem estimativa de receitas exageradas em R$ 87,4 bilhões e de despesas subestimadas em R$ 19,2 bilhões. A análise está disponível no relatório de acompanhamento fiscal da entidade.
“Não comento as estimativas de outras instituições, sejam elas privadas, públicas, mas a gente está atento. A gente sempre foi claro que, no processo de elaboração do Ploa [Projeto de Lei Orçamentária Anual], tinha alguns desafios em função da própria discussão do curso da compensação da desoneração. Agora, é a hora de fazer essa reavaliação, reavaliação de grade de parâmetro e tudo mais. Se tiver necessidade de fazer algum ajuste, será feito, mas por ora não tem nenhuma decisão tomada quanto a esse assunto“, declarou.
Para o secretário, há condições de o Brasil retomar o grau de investimento ao recuperar a parte fiscal. Disse que o país está “muito próximo” disso. Na sua visão, o governo “está ciente de que tem que aproveitar a oportunidade” para retomar o selo de bom pagador. Afirmou ainda que o Congresso “também entende a importância”.
"Tem que ir preparando a sociedade para alguns ajustes. Isso é natural", declarou sobre corte de gastos
DINHEIRO ESQUECIDO
O secretário também disse que o governo não escolheu ter acesso ao dinheiro esquecido por brasileiros para compensar a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para setores da economia. Em 12 de setembro, a Câmara finalizou a votação do projeto sobre o tema.
O Tesouro poderá resgatar esses recursos. A estimativa é de R$ 8,6 bilhões.
“Nós escolhemos a MP do PIS/Cofins, o Congresso optou por rejeitá-la e que ele mesmo indicasse uma compensação. Dentre elas, há essa previsão desses recursos não resgatados do sistema financeiro. Foi uma escolha do Congresso, e não do Executivo utilizar essa fonte de compensação”, disse Ceron.