O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou que a comunidade internacional, “em especial as superpotências”, é a responsável pelo atual conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas.
“Foi realmente a comunidade internacional que deixou Israel seguir fazendo o que está fazendo. […] Estão nos desumanizando, somos bestas”, disse ao Poder360.
Segundo o representante, a guerra iniciada em 7 de outubro é uma continuidade dos “massacres” realizados em 9 de abril de 1948. A fala de Alzeben se refere ao chamado massacre de Deir Yassin.
No episódio, paramilitares judeus mataram palestinos de Deir Yassin, vila a oeste de Jerusalém. À época, era realizada a 1ª Guerra Árabe-Israelense, instaurada depois do reconhecimento do Estado de Israel.
“A comunidade internacional sempre trata de culpar a vítima. Esse é um conflito que se apresenta como continuidade de toda negligência, da falta de esperança e horizonte político. Quando falta horizonte político, abre espaço para conflitos e guerras”, afirmou.
Peguntado sobre a situação dos palestinos na Faixa de Gaza, Alzeben afirma que os habitantes da região sofrem com ataques israelenses de todo tipo, inclusive com armas proibidas internacionalmente.
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina chegou a afirmar nesta 4ª feira (11.out) que Israel usou fósforo branco em Gaza. O uso da substância química como arma é proibido desde 1997 pela Convenção sobre Armas Químicas.
“Como sempre, a Faixa de Gaza é um campo de experimentação para as armas letais”, disse o embaixador sobre o assunto.
O atual conflito já causou ao menos 2.300 mortes. Desses, 1.100 são palestinos, segundo dados divulgados nesta 4ª feira (11.out) pelo Ministério da Saúde da Palestina, e pelos menos 1.200 são israelenses, conforme a Defesa de Israel.
NEGOCIAÇÕES DE PAZ
Segundo Alzeben, o governo palestino está aberto para negociar com Israel o fim das ofensivas. No entanto, o embaixador afirmou que é preciso ter uma garantia internacional para o cumprimento do acordo.
“Claro que a paz é possível se existe uma boa vontade e disposição. Estamos na melhor disposição de negociar, mas tem que ser com um calendário e com bases definidas conforme o direito internacional, não conforme o ocupante [Israel] que quer impor suas condições”, afirmou.
ENTENDA O CONFLITO
Embora seja o maior conflito armado na região nos últimos anos, a disputa territorial entre palestinos e judeus se arrasta por décadas. Os 2 grupos reivindicam o território, que possui importantes marcos históricos e religiosos para ambas as etnias.
O Hamas (sigla árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”) é a maior organização islâmica em atuação na Palestina, de orientação sunita. Possui um braço político e presta serviços sociais ao povo palestino, que vive majoritariamente em áreas pobres e de infraestrutura precária, mas a organização é mais conhecida pelo seu braço armado, que luta pela soberania da Faixa de Gaza.
O grupo assumiu o poder na região em 2007, depois de ganhar as eleições contra a organização política e militar Fatah, em 2006.
A região é palco para conflitos desde o século passado. Há registros de ofensivas em 2008, 2009, 2012, 2014, 2018, 2019 e 2021 entre Israel e Hamas, além da 1ª Guerra Árabe-Israelense (1948), a Crise de Suez (1956), Guerra dos 6 Dias (1967), 1ª Intifada (1987) e a 2ª Intifada (2000). Entenda mais aqui.
Os atritos na região começaram depois que a ONU (Organização das Nações Unidas) fez a partilha da Palestina em territórios árabes (Gaza e Cisjordânia) e judeus (Israel), na intenção de criar um Estado judeu. No entanto, árabes recusaram a divisão, alegando terem ficado com as terras com menos recursos.
ATAQUE A ISRAEL
O Hamas, grupo radical islâmico de orientação sunita, realizou um ataque surpresa a Israel no sábado (7.out). Israel declarou guerra contra o Hamas e começou uma série de ações de retaliação na Faixa de Gaza, território palestino que faz fronteira com Israel e é governado pelo Hamas.
Os ataques do Hamas se concentram, até o momento, ao sul e ao centro de Israel. Caso o Hezbollah faça novas investidas na fronteira com o Líbano, um novo foco de combate pode se estabelecer ao norte de Israel.
O tenente-coronel israelense, Richard Hecht, afirmou que o país “olha para o Norte” e que espera que o Hezbollah “não cometa o erro de se juntar [ao Hamas]”.