O subprocurador-geral da República, Alexandre Camanho, disse que a Lava Jato “deixou uma espécie de manual sobre como não agir” e que “ninguém pretende” usar essa cartilha novamente. Sem citar nomes, se referiu às conversas entre o então procurador da operação, Deltan Dallagnol (Novo), e o ex-juiz federal Sergio Moro (União Brasil), que anularam decisões baseadas em provas e depoimentos colhidos pela força-tarefa.
“Entre procuradores, a percepção largamente majoritária é de que a Lava Jato foi vítima de seus próprios erros. Ninguém pretende assumir novamente a cartilha da Lava Jato”, falou o subprocurador-geral em entrevista ao Valor, publicada nesta 5ª feira (16.nov.2023).
“A Lava Jato deixou uma espécie de manual sobre como não agir, sobretudo em relação à sobriedade com que um magistrado e um procurador devem conduzir as investigações”, afirmou.
Segundo Camanho, o que existe agora no MPF são pessoas que atuaram na operação: “São colegas que serviram ao país com a melhor das intenções. Chamá-las de lavajatistas e reprová-las é uma percepção obtusa do tema. Não existe uma facção residual da Lava Jato, teimosa, esperando para dar um golpe”.
Camanho foi nomeado para o cargo pela procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos. Ela assumiu a PGR (Procuradoria Geral da República) no fim de setembro, quando o mandato do ex-procurador-geral Augusto Aras, indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019, chegou ao fim. Um novo titular do órgão deve ser escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que diz não ter pressa para a nomeação.
Tradicionalmente, Lula escolhe o procurador-geral da República com base na lista tríplice elaborada pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Porém, já avisou que não deve usar o mesmo método desta vez.
Camanho defendeu a prerrogativa do presidente em decidir se vai aderir à recomendação da associação de procuradores ou não. “Se o presidente da República não gosta dos resultados [da lista tríplice], essa é uma prerrogativa dele. É um juízo privativo do presidente, e não se pode criticá-lo, pois a lista não é obrigatória”, avaliou.