Por Lisandra Paraguassu, Jake Spring e Jarrett Renshaw
RIO DE JANEIRO, 19 Nov (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta terça-feira dos líderes do G20 que as principais economias do mundo acelerem suas metas climáticas nacionais, conclamando que os países antecipem de cinco a dez anos o cumprimento da meta de emissões líquidas zero.
Ao abrir a última sessão da reunião de cúpula do G20 no Rio de Janeiro, Lula sugeriu que os países antecipassem suas metas para atingir a neutralidade climática até 2040 ou 2045, em vez de 2050, como o Brasil e muitos outros países já se comprometeram.
"Temos que fazer mais e melhor", disse Lula, observando que este provavelmente será o ano mais quente já registrado no mundo, enquanto desastres climáticos como enchentes e secas se tornam mais frequentes e intensos. "Não há mais tempo a perder", acrescentou.
Os líderes mundiais estão tentando reforçar uma resposta global às mudanças climáticas antes que Donald Trump retorne à Presidência dos Estados Unidos em janeiro, uma vez que o presidente eleito dos Estados Unidos planeja reverter a política dos EUA sobre o aquecimento global e supostamente sair do histórico Acordo de Paris.
As nações do G20 são consideradas vitais para moldar a resposta ao aquecimento global, pois representam 85% da economia mundial e mais de três quartos das emissões de gases que causam o aquecimento climático.
Em uma declaração conjunta na segunda-feira, os líderes do G20 pediram "um aumento rápido e substancial do financiamento climático de todas as fontes de bilhões para trilhões" para enfrentar o aquecimento global.
Eles também pediram que os negociadores da cúpula do clima da ONU COP29 chegassem a um acordo sobre uma nova meta financeira para a quantidade de dinheiro que as nações ricas devem fornecer às nações em desenvolvimento mais pobres no financiamento climático, o principal ponto de atrito nas negociações sobre o clima.
Na cúpula do G20 nesta terça-feira, quando os líderes voltaram suas discussões para o meio ambiente, Lula pediu aos países em desenvolvimento que ampliassem suas metas climáticas para tratar de todas as emissões que causam o aquecimento global, e não apenas de determinados setores ou gases.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse aos demais líderes globais no encontro que os países em desenvolvimento precisam ter "poder de fogo e acesso a capital suficientes" para desacelerar as mudanças climáticas e proteger seus países de seus efeitos. Esse dinheiro precisa fluir para suas economias e dar espaço para os países endividados.
"A história está nos observando", disse Biden. "Peço que mantenhamos a fé e sigamos em frente. Essa é a maior ameaça existencial à humanidade."
NEGOCIAÇÕES NA COP29
Lula criticou os países desenvolvidos por não cumprirem a promessa de entregar 100 bilhões de dólares em financiamento climático anualmente aos países em desenvolvimento até 2020.
Lula observou que os negociadores da cúpula climática COP29, que está em andamento em Baku, no Azerbaijão, estão pressionando por uma nova meta global de quanto os países mais ricos devem fornecer às nações em desenvolvimento. Os economistas sugerem que a meta deve ser de pelo menos 1 trilhão de dólares por ano.
Essas negociações, que devem ser concluídas na sexta-feira, estão paralisadas porque os países desenvolvidos pedem que mais países contribuam para a meta, enquanto o mundo em desenvolvimento argumenta que as nações ricas -- as mais responsáveis pelas mudanças climáticas -- precisam pagar.
A declaração dos líderes do G20 divulgada na segunda-feira disse que as nações devem romper o impasse sobre o financiamento, mas não deram uma orientação clara sobre uma solução.
"Os líderes do G20 enviaram uma mensagem clara aos seus negociadores na COP29: não saiam de Baku sem uma nova meta financeira bem-sucedida. Isso é do interesse claro de todos os países", disse o chefe climático da ONU, Simon Stiell, em uma declaração em resposta ao comunicado do G20.
Ainda assim, alguns ativistas reclamaram que a declaração do G20 não foi longe o suficiente no financiamento climático.
"Essa imprecisão da declaração do G20 corre o risco de minar a confiança nas negociações, uma vez que a influência do G20 é crucial para diminuir as divisões entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento", disse Oscar Soria, diretor da The Common Initiative, um centro de estudos ambiental.
Os negociadores do clima pretendem produzir um rascunho completo de um acordo para a meta financeira até a noite de quarta-feira, disse o negociador principal da cúpula, Yalchin Rafiyev, do Azerbaijão.
"Nós aceleramos o ritmo", disse Rafiyev. "O resultado só será tão bom quanto o compromisso das partes em nos ajudar a construir soluções."
O G20 também se comprometeu a chegar a um acordo sobre um tratado juridicamente vinculante para limitar a poluição por plásticos até o final de 2024, com a retomada das negociações na próxima semana para chegar a um acordo que já dura dois anos.
(Reportagem de Jake Spring, Lisandra Paraguassu, Eduardo Baptista e Jarretr Renshaw, no Rio de Janeiro, e William James, Kate Abnett, Karin Strohecker e Valerie Volcovici, em Baku)
((Tradução Redação Rio de Janeiro))
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