Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em sua primeira reunião ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou um recado claro a seus ministros: o governo depende do Congresso e deputados e senadores precisam ser bem tratados.
“Não adianta a gente ter o governo mais tecnicamente formado em Harvard possível e não ter um voto na Câmara dos Deputados, no Senado. É preciso que a gente saiba que o Congresso nos ajuda. Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso", disse Lula no discurso em que abriu a reunião.
"Por isso cada ministro tem que ter a grandeza de atender bem cada deputado, cada deputada, cada senador, cada senadora", acrescentou.
O presidente afirmou, mais uma vez, que seu governo terá quadros políticos e não tem problema com isso, e destacou que parte dos seus ministros é sim fruto de acordos políticos.
“Vocês foram chamados porque têm competência, vocês foram chamados porque foram indicados pelas organizações politicas a que pertencem, e eu respeito muito isso”, afirmou.
Lula deixou claro a seus ministros que a relação com o Congresso é primordial para o governo dar certo. Apesar da rebelião inicial de parte dos partidos da sua base, como o PSOL, o petista se comprometeu pessoalmente com o presidente da Câmara --aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro até o final de seu mandato-- em apoiar sua reeleição para o cargo, e o PT declarou diretamente o voto em Lira. Mais de uma vez, Lula declarou que o presidente da República não deve se meter na eleição da Mesa das duas Casas.
Com os líderes do governo no Congresso presentes na reunião, Lula, que é reconhecido por ser um bom negociador, ressaltou que falará com todas as forças presentes no Legislativo e quantas vezes forem necessárias e que não existe "veto ideológico".
“Quero dizer aos líderes (do governo) que vocês vão ter um presidente disposto a fazer tantas quantas conversas forem necessárias com as lideranças, com os partidos, com o presidente (do Senado) Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com o presidente Arthur Lira (PP-AL). Não tem veto ideológico, não tem assunto proibido em se tratando do bem do país”, garantiu.
Mesmo tendo atraído o MDB, o União Brasil e o PSD para sua base, cada um com três ministérios, Lula não tem maioria hoje para, por exemplo, aprovar uma proposta de emenda constitucional. Ainda que todos os partidos entregassem 100% dos votos na Câmara.
Ao todo, os partidos aliados entregariam 282 votos, mas dificilmente o governo teria de, fato tudo isso. Especialmente PSD e União Brasil ainda tem parlamentares mais ligados ao bolsonarismo, o que irá levar o governo --e, especialmente, Lula-- a ter que usar seu poder de convencimento nas votações mais importantes. Além disso, o presidente tirou políticos experientes, especialmente no Senado, para compor seu ministério.
"Eu tenho consciência de que não é o (Arthur) Lira que precisa de mim, é o governo que precisa da boa vontade da presidência da Câmara. Não é o (Rodrigo) Pacheco que precisa de mim, é o governo que precisa de um bom relacionamento com o Senado. E é assim que nós vamos governar esses quatro anos", defendeu o presidente.
“Cada um de vocês ministros têm a obrigação de manter a relação mais harmônica com o Congresso Nacional”, continuou. “Quando a gente vai conversar, a gente não está propondo um casamento, a gente está propondo aprovar uma matéria ou fazer uma aliança momentânea em torno de algo importante para o povo brasileiro.“