(Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira durante visita a Pequim que seu governo não tem preconceito de fazer parcerias com os chineses e que ninguém proibirá o Brasil de aprimorar sua relação com a China.
Em discurso antes de se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, para assinatura de uma série de acordos entre os governos dos dois países e entre empresas brasileiras e chinesas, Lula também disse que quer que as relações brasileiras com o país asiático transcendam os laços comerciais.
"Ontem (quinta) fizemos uma visita à Huawei (empresa chinesa de telecomunicações), em uma demonstração que queremos dizer ao mundo que não temos preconceito em nossas relações com os chineses e que ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China", disse Lula.
Em sua fala, Lula mencionou a busca por parcerias nas áreas ambiental, de ciência e tecnologia e telecomunicações.
"Temos com a China um extraordinário relacionamento, um relacionamento que a cada dia que passa fica mais agudo e se fortalece", disse Lula na capital chinesa ao chegar para reunião com o presidente da China, Xi Jinping.
"Eu penso que a compreensão que o meu governo tem da China é de que nós precisamos trabalhar juntos para que a relação Brasil-China não seja uma relação meramente de interesse comercial. Queremos que a relação Brasil-China transcenda a relação comercial."
Lula também disse que seu governo significa um novo começo nas relações com a China, após as constantes críticas que o ex-presidente Jair Bolsonaro fazia ao país asiático, maior parceiro comercial do Brasil.
A viagem de Lula à China acontece em um momento de crescimento nas tensões entre os Estados Unidos e Pequim, principalmente após a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, se reunir na Califórnia com o presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Kevin McCarthy, levando Pequim a realizar uma série de exercícios de guerra no entorno da ilha que considera parte de seu território. A China tem a posição histórica de não descartar o uso da força para colocar Taiwan sob seu controle.
A tecnologia da informação também tem sido um ponto crítico nas relações com a China com os Estados Unidos, que proibiram alguns produtos chineses citando razões de segurança.
O Brasil, porém, tem interesse em atrair investimentos chineses nessas áreas, mesmo com a desconfiança de Washington, que nos últimos anos tentou impedir o governo brasileiro de comprar equipamentos 5G da gigante Huawei.
Durante a viagem a Pequim, Brasil e China assinaram acordos para abrir caminho à cooperação na área tecnológica, inclusive em semicondutores, outro tema sensível para os EUA.
Em entrevista coletiva após a cerimônia entre Lula e Xi, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse esperar que a reação de Washington à visita da delegação brasileira à China seja de estabelecer mais parcerias com o Brasil.
Ele argumentou que, dado seu tamanho e relevância, o Brasil não pode se isolar de nenhum país, negou que o governo Lula busque se distanciar dos EUA, a quem chamou de "parceiro de qualidade" e disse que a intenção é se aproximar cada vez mais dos três maiores players globais --China, EUA e União Europeia.
(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo, e de Lisandra Paraguassu, em BrasíliaEdição de Luana Maria Benedito e Flávia Marreiro)