Por Lisandra Paraguassu e Eduardo Simões
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está consciente, conversando e se alimentando normalmente depois de passar por uma cirurgia de emergência para drenagem de um hematoma no crânio, disse nesta terça-feira o médico pessoal do presidente, Roberto Kalil Filho, acrescentando que Lula está sem sequelas após o procedimento.
Em entrevista coletiva no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde Lula está internado, Kalil afirmou que o presidente deve ficar em observação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos próximos dias e que a previsão é que ele retorne a Brasília no início da próxima semana, podendo então retomar suas atividades normais, embora inicialmente em um ritmo mais lento.
"Ele não teve nenhuma lesão cerebral, ele não teve nenhum comprometimento cerebral. O risco de lesão é zero", disse Kalil sobre Lula, de 79 anos.
"Se tudo correr bem, como está correndo, ele deve retornar à Brasília no começo da semana. Tudo depende dessa evolução, um dia a mais, um dia a menos, mas a previsão é que o presidente esteja em Brasília semana que vem... Ele vai ficar essas 48 horas na UTI em observação. Neste momento ele está bem, está se alimentando, está consciente, está normal. É mais por precaução", acrescentou o médico.
Kalil explicou que Lula teve uma indisposição ao longo da segunda-feira, em um quadro similar a uma síndrome gripal, e sofreu uma dor de cabeça à tarde, indo então para a unidade de Brasília do Sírio-Libanês, onde passou por uma bateria de exames que detectaram um hematoma em seu crânio, consequência da queda que sofreu no banheiro do Palácio da Alvorada em outubro.
Embora, segundo Kalil, o Sírio-Libanês de Brasília esteja equipado e capacitado para tratar do caso, a equipe médica que trata de Lula optou por transferi-lo para São Paulo, onde ele foi submetido a uma cirurgia para drenagem de hematoma no crânio. Lula esteve o tempo todo consciente e conversando, acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva, disse Kalil.
O boletim médico divulgado pelo hospital logo após a cirurgia, durante a madrugada, havia informado que o procedimento tinha sido uma craniotomia, mas os médicos responsáveis pela cirurgia esclareceram posteriormente que na verdade realizaram um procedimento mais simples, chamado trepanação.
Segundo o doutor Mauro Suzuki, o termo craniotomia normalmente se refere a aberturas maiores do que a que foi necessária para operar o presidente. A trepanação, disse Suzuki, "é uma pequena perfuração no crânio, são orifícios pequenos". Ele disse ainda que não será necessária nenhuma intervenção para a cicatrização, já que ela ocorrerá naturalmente.
Os médicos que cuidam de Lula explicaram na entrevista coletiva que o hematoma não estava no cérebro do presidente, mas entre o cérebro e a membrana meníngica. A opção pela drenagem do hematoma se deu para evitar que ele comprimisse o cérebro.
Por causa da cirurgia, a agenda de Lula prevista para esta terça-feira foi cancelada, disse o Palácio do Planalto, e o vice-presidente Geraldo Alckmin participa de eventos inicialmente agendados para Lula, entre elas a recepção ao primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico.
Mais cedo, em vídeo publicado em sua conta no Instagram, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, afirmou que o procedimento realizado nesta madrugada foi importante "para estabilizar a saúde do presidente para ele voltar às atividades o mais rápido possível".
Também no Istagram, Janja agradeceu as mensagens, orações e desejos de melhoras ao presidente e afirmou que "em breve ele estará novamente de volta ao trabalho".
"Depois da cirurgia muito bem-sucedida, a angústia dessa noite deu espaço para a tranquilidade e para a certeza de que, com a dedicação da equipe médica e com a fé e o amor do povo, em breve ele estará novamente de volta ao trabalho. Por isso, fiquem tranquilos!", publicou a primeira-dama na rede social.
"Ele, que ama cuidar das pessoas, está recebendo todo o cuidado necessário para uma rápida recuperação. Já já ele estará de volta", acrescentou.
PREOCUPAÇÃO PARA 2026
A queda no banheiro do Palácio da Alvorada em 19 de outubro levou Lula a cancelar uma série de viagens internacionais à época, como a ida à cúpula do Brics, em Kazan, na Rússia; à cúpula da ONU sobre biodiversidade COP16, na Colômbia; e à cúpula da ONU sobre o clima COP29, no Azerbaijão.
Eleito para um terceiro mandato em 2022, Lula é apontado como provável candidato à reeleição em 2026, quando terá 81 anos de idade.
Na avaliação do cientista político e professor do Insper Carlos Melo, o episódio envolvendo a saúde do presidente pode alimentar especulações sobre a capacidade de Lula de concorrer a um novo mandato em 2026, como planeja o PT.
O partido não está pronto para funcionar sem Lula, avaliou Melo. "Nem em 2026, nem depois disso", afirmou.
Em uma entrevista em novembro à CNN Internacional, o presidente disse que esperava não precisar concorrer de novo em 2026.
"Eu espero que a gente tenha outros candidatos e que a gente possa fazer uma grande renovação política no país e no mundo", disse.
Mas ressalvou: "se chegar na hora, os partidos entenderem que não tem outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema-direita que seja negacionista, que não acredite na medicina, que não acredite na ciência, obviamente que estarei pronto para enfrentar".
Em 2011, após completar seu segundo mandato na Presidência, Lula teve diagnosticado um câncer na laringe e, no ano seguinte, anunciou que o tumor deixou de existir.
(Reportagem adicional de Gabriel Araujo e Manuela Andreoni, em São PauloEdição de Pedro Fonseca e Camila Moreira)