O ministério da Justiça e Segurança Pública, comandando por Flávio Dino, recebeu nos últimos 3 meses, por duas vezes, Luciane Barbosa Farias, conhecida como a “dama do tráfico amazonense”. Ela é integrante da facção criminosa Comando Vermelho, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
Em nota (leia a íntegra no fim desta reportagem), o Ministério da Justiça afirma que era “impossível” que o setor de inteligência do ministério a identificasse por ela ter participado dos encontros junto a uma comitiva. A presença não foi registrada nas agendas oficiais.
Luciane Barbosa é casada há 11 anos com Clemilson dos Santos, apelidado de Tio Patinhas, que era o procurado “número 1” da polícia do Amazonas até ser preso em dezembro de 2022. Ambos foram condenados em 2ª Instância por lavagem de dinheiro e associação para o tráfico. Clemilson cumpre pena de 31 anos no presídio de Tefé (AM).
Em maio, segundo a reportagem do Estadão, ela esteve no Ministério da Justiça como presidente da ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas), indicada pela polícia do AM como ONG que atua em prol de presos do Comando Vermelho e que é financiada com dinheiro do tráfico.
A mulher do líder do CV se encontrou ao menos com 2 secretários de Dino:
- 16.mar.2023 – encontro com o secretário nacional de Assuntos Legislativos, Elias Vaz;
- 2.mai.2023 – reunião com o secretário nacional de Política Penais, Rafael Velasco.
Os encontros foram registrados no perfil do Instagram da ILA, mas a foto de Luciane com Elias Vaz foi posteriormente apagada.
reprodução/Instagram @ associacaoliberdadedoam – 3.mai.2023 Imagem mostra que o perfil da Associação Instituto Liberdade do Amazonas manteve a foto do encontro entre o secretário Rafael Velasco e Luciane Barbosa Farias
O QUE DIZEM DINO E SECRETÁRIOS
O ministro Flávio Dino disse, em seu perfil na rede social X (antigo Twitter), que os encontros não foram realizadas em seu gabinete e que nunca recebeu “líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho”.
Também no X, o secretário Elias Vaz informou que recebeu Luciane durante uma audiência com a presidente da Anacrim (Associação Nacional dos Advogados Criminalistas), a ex-deputada estadual do Rio de Janeiro Janira Rocha, para uma audiência em 16 de março. Luciane integrava a comitiva nessa reunião no ministério.
Leia a íntegra do Ministério da Justiça e Segurança Pública:
“No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da Anacrim (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas”.
“A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes”.
“Por não se tratar de assunto da pasta, a Anacrim, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais)”.
“A agenda na Senappen e da Anacrim aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da Anacrim”.
“Não houve qualquer outro andamento do tema”.
“Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota”.
“Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais”.