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Movimento contra Josué Gomes na Fiesp ameniza tom após má repercussão

Publicado 21.10.2022, 13:44
Movimento contra Josué Gomes na Fiesp ameniza tom após má repercussão

Três meses depois de deixar a Presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf trabalhou com sindicatos patronais para elaborar um documento que questiona a gestão de Josué Gomes, seu sucessor no cargo. O documento foi entregue à Fiesp ainda nesta sexta-feira, 21, segundo apurou o Estadão. Inicialmente, o "abaixo-assinado" iria direto para a jugular, pedindo a saída de Josué, mas agora o conteúdo foi amenizado para a discussão de temas relacionados à atual gestão. O motivo foi o protesto de presidentes de sindicatos ligados a grandes indústrias.

A questão pode ter viés político. Depois de ficar em silêncio durante o primeiro turno, Skaf, que é apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PL), voltou à cena em vídeos com tom político à medida que a candidatura do atual presidente ganhou força nas pesquisas. Durante as quase duas décadas à frente da Fiesp, Skaf tentou várias vezes um cargo público - em 2018, por exemplo, foi candidato ao governo do Estado.

Enquanto isso, Josué é filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar, que morreu em 2011. Recentemente, a ala mais à direita da Fiesp também criticou a decisão da entidade de divulgar um manifesto em favor da democracia, o que foi visto como um aceno favorável a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contra Bolsonaro. Josué, porém, jamais declarou seu voto.

Segundo apurou o Estadão, parte dos presidentes de sindicatos setoriais estaria insatisfeita com o tratamento recebido pela nova gestão. Alguns desses representantes de classe afirmaram sequer ter conversado com Josué Gomes desde sua eleição. No entanto, apesar desses problemas, há quem se refira à movimentação do ex-presidente como um "golpe na Fiesp".

Entidade dividida

Uma fonte da Fiesp, que pediu anonimato, explicou que o que tem gerado insatisfação é a mudança na estrutura de poder na entidade, capitaneada pela gestão de Josué. Com isso, a federação trouxe de volta à Fiesp grandes industriais que tinham se afastado ao longo da gestão de Skaf.

O requerimento entregue nesta sexta-feira reuniu 78 assinaturas de sindicato, de um total de 112 delegados dentro do estatuto da Fiesp - bem acima dos 50% exigidos para a convocação de uma reunião. Dentro da instituição, há quem defenda que as assinaturas angariadas são, em sua esmagadora maioria, de "sindicatos de papel", sem grande relevância para a economia.

Apesar de não falar em saída de Josué Gomes neste momento, o documento certamente tenta abrir a porta para um "impeachment" do recém-empossado presidente da instituição. "Há uma insatisfação. Agora se a reunião será positiva ou negativa, e quais serão os próximos passos, fica difícil de prever", disse uma fonte.

Procurado pelo Estadão, Paulo Skaf confirmou seu envolvimento com o documento e explicou, por mensagem, seu intuito: "Trata-se de um requerimento solicitando ao Presidente da Fiesp que convoque uma reunião do Conselho de Representantes para debater tema de interesse da federação", afirmou o ex-presidente da federação das indústrias.

Esse poder de mobilização estaria ligado ao fato de que, ao longo de sua gestão, Skaf se manteve próximo aos pequenos sindicatos patronais, grande parte deles do interior do Estado. Uma fonte ouvida pela reportagem não descartou, porém, que Josué "entregue o chapéu" em uma eventual reeleição de Bolsonaro.

Fontes ligadas à Fiesp afirmaram que "não dá para rasgar o estatuto da Fiesp" e que o abaixo-assinado pode riscar a imagem da instituição. Ao Estadão, o presidente da Abrinq (associação que reúne as indústrias de brinquedos), Synésio Batista, afirmou que, mesmo não estando satisfeito com a gestão de Josué Gomes até o momento, não apoia o movimento por sua retirada do cargo e não assinará o abaixo-assinado de Skaf.

Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, afirmou à reportagem que, independentemente das inclinações políticas de seu presidente da hora, a instituição não pode ser "politizada". "É preciso preservar a imagem da Fiesp", frisou, lembrando que não é o momento de discutir a saída de Josué.

Procurada, a Fiesp não comentou o tema.

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