O MP (Ministério Público) junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) pediu uma investigação sobre as reuniões de Luciane Barbosa Farias, mulher do líder do CV (Comando Vermelho), no Ministério da Justiça e Segurança Pública. O ofício foi encaminhado ao presidente do TCU, Bruno Dantas.
Luciane é mulher de Clemilson dos Santos, apelidado de Tio Patinhas. Conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, ela se encontrou com 2 secretários do ministério em 2023, nas dependências da pasta.
No despacho, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado disse que não é possível afirmar que o encontro foi “um erro” e as reuniões não se justificam pelo “interesse público alegado”. Eis a íntegra (PDF – 186 kB).
Furtado afirmou no documento que o objetivo da ação é “investigar possíveis condutas atentatórias à moralidade administrativa e em eventual desvio de finalidade”.
O subprocurador-geral argumentou que a sociedade não aceita mais que autoridades tenham condutas imorais e suspeitas, sobretudo quando é pública e notória a precariedade dos serviços que lhe são oferecidos, em sua opinião, especialmente quando se tratam da segurança pública.
“Até quando se poderá exigir que cidadãos desassistidos, vítimas já da injustiça, do medo, da violência e da prestação de péssimos serviços pelo Estado, assistam sem revolta o tipo de afronta de que cuida essa representação?”, questionou Furtado no despacho.
A VISITA NO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Luciane Barbosa Farias, conhecida como “dama do tráfico” amazonense, é casada com Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, apontado como líder do Comando Vermelho. Ele foi condenado por lavagem de dinheiro, associação ao tráfico e organização criminosa, e cumpre pena de 31 anos no presídio de Tefé (AM).Luciane é presidente da ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas), e foi recebida duas vezes no Ministério da Justiça em menos de 3 meses, também se encontrou com congressistas governistas ao longo do ano. A agenda foi com secretários da pasta.
Na 3ª feira (14.nov), a chefe da associação pelos direitos de presidiários disse que não integra nenhuma facção criminosa e que conheceu sua alcunha de “dama do tráfico amazonense” na 2ª feira (13.nov.2023), pela imprensa.
“Nunca fui conhecida como ‘dama do tráfico’, e sim como ‘Lu Farias'”, disse em entrevista a jornalistas.
Luciane disse que foi investigada por associação ao tráfico, mas absolvida em 1ª instância. “Não ficou comprovado que eu fazia parte de organização criminosa. Não sou faccionada, sou esposa do Clemilson. Meu esposo está preso, pagando pelo erro dele. Nunca levantei bandeira defendendo o crime. Mas defendo a Constituição”, falou.
“Estava lá [no Ministério da Justiça] como presidente da instituição, levando um dossiê referente às mazelas do sistema prisional. O meu trabalho na instituição é levantar denúncias dos familiares sobre o sistema carcerário”, explicou Luciane aos jornalistas.
Ela também disse nunca ter se encontrado com o ministro da Justiça, Flávio Dino, e que não informou ser casada com Clemilson em suas visitas ao ministério.
O caso foi revelado pelo jornal O Estado de São Paulo.