Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal fez um pedido de cooperação internacional aos Estados Unidos para aprofundar as investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro, após as informações passadas pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid na colaboração premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), disseram nesta quarta-feira duas fontes da corporação com conhecimento do assunto.
Segundo uma das fontes, a PF formalizou o pedido de cooperação via Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão ligado ao Ministério da Justiça responsável por fazer pedidos de cooperação do Brasil para que policiais de outros países façam diligências.
Essa fonte disse que, no caso das investigações que envolvem Bolsonaro, o Departamento de Justiça dos EUA será acionado pela Polícia Federal brasileira para ajudar nas investigações.
Segundo o portal de notícias G1, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que o pedido de cooperação foi enviado na terça-feira.
Uma segunda fonte da PF, essa do alto escalão da corporação, disse que agentes norte-americanos já vêm colaborando informalmente nas investigações que envolvem Bolsonaro em uma fase inicial, chamada exploratória. Com a formalização do pedido de cooperação a partir dos elementos colhidos na fase exploratória, os dois países passam a atuar oficialmente em parceria, permitindo que a investigação conjunta seja usada judicialmente.
Por ora, a colaboração do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tem efeito jurídico nulo, sendo necessário confirmar as declarações e elementos que ele apresentou com diligências complementares. Segundo essa segunda fonte, pode se levar de três a seis meses para o Brasil receber documentos dos investigadores dos EUA.
Um dos fatos que deve ser explorado nas investigações é que Bolsonaro e o próprio Cid tiveram seus sigilos bancários quebrados no Brasil e no exterior por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes no mês passado.
Procuradas, as defesas de Bolsonaro e Cid não responderam a pedidos de comentário. Cid foi solto da prisão na semana passada, por ordem de Moraes, após a colaboração com a PF. Ele estava detido desde maio.
TRÊS FRENTES
Segundo uma terceira fonte da PF, Cid já prestou três depoimentos e em breve deve falar novamente à corporação. São três principais frentes que o ex-auxiliar de Bolsonaro tem cooperado: o caso envolvendo a suposta adulteração de cartões de vacinas do ex-presidente e de pessoas próximas, pelo qual fora preso; o caso da suposta apropriação ilegal de presentes recebidos de autoridades estrangeiras por Bolsonaro; e as articulações para suposta tentativa de um golpe de Estado que culminaram nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro.
Dessas, segundo essa fonte, as investigações sobre fraude em vacinas estão mais avançadas, enquanto o caso relacionado à suposta tentativa de golpe de Estado, dada a complexidade, é a que está em estágio mais demorado.
A primeira fonte destacou que a cúpula da PF tem tido um respaldo tanto do Ministério da Defesa quanto do Comando do Exército para realizar e avançar em relação a investigações que envolvem militares.
Uma fonte ligada à cúpula do Exército afirmou que a instituição está cooperando com a PF e o Supremo e destacou que Cid, além de eventuais punições na esfera judicial, deverá sofrer sanções e poderá até ser expulso do Exército, se ficar comprovado ao final seu envolvimento e participação em crimes.