A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, telefonou para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), ontem, para iniciar as tratativas da transição de governo, a despeito de o presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não ter reconhecido a derrota até o contato entre os dois líderes. As conversas também já deram entre os dois vices, o atual e o eleito. O general Hamilton Mourão (Republicanos), que foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul, conversou com Geraldo Alckmin e ofereceu ajuda na passagem da gestão.
Segundo fontes do comando petista, o ministro de Bolsonaro se colocou à disposição para tratar do assunto, mas ressaltou que ainda não sabe quem será o indicado pelo presidente para trabalhar na transição. O diálogo, também segundo aliados de Lula, foi cordial. A conversa ocorreu ontem à tarde. Já Mourão mandou uma mensagem Alckmin para parabenizá-lo. Alckmin, depois disso, telefonou para Mourão para agradecer.
Os contatos reforçaram a avaliação da equipe de Lula de que é possível ter um cenário de transição pacífica. A aposta no QG petista é de que Bolsonaro vai reconhecer a derrota. Emissários foram escalados para fazer as pontes com os aliados de Bolsonaro no Congresso e no governo com esse intuito.
De manhã, portanto antes da conversa com o ministro da Casa Civil, Gleisi afirmou que espera uma transição de governo "mais tranquila e razoável possível" e mostrou confiança nas "instituições sólidas do País". O núcleo duro de Lula fez uma reunião ontem para iniciar as discussões sobre a transição.
Gleisi, Alckmin e o ex-ministro Aloizio Mercadante devem integrar o time, sendo que os últimos dois são cotados para a coordenação do grupo de transição. Lula não fez nenhum anúncio formal a respeito do tema até o momento. O presidente eleito vai se reunir novamente com Gleisi hoje pela manhã. À noite, Gleisi conversará com líderes dos dez partidos da coligação que apoiaram Lula na eleição e aliados que aderiram ao petista na campanha eleitoral, mesmo de que outras siglas.
A presidente do PT também afirmou que vai procurar aliados de Bolsonaro. "Tem representantes dos partidos políticos que apoiaram Bolsonaro. Vamos entrar em contato com eles. Temos responsabilidade com o País e vamos querer que a coisa seja o mais tranquila e razoável possível", acrescentou, destacando a necessidade de conversar não apenas com o Congresso eleito, mas com o atual.
Lula passou o dia de ontem em ligações com cerca de 20 líderes internacionais, se reuniu por três horas com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e falou com seus aliados mais próximos.
Hoje, o presidente eleito viajará para a Bahia com a mulher, Rosângela da Silva, conhecida como Janja. Lula vai descansar por dois dias em uma praia no norte de Salvador. Na sexta-feira, ele deve realizar um ato político na capital baiana, para agradecer os votos dos eleitores do Estado. Lula recebeu 72% dos votos dos eleitores da Bahia.
Vice-presidência
Já da parte do governo, Mourão se antecipou a Bolsonaro e instruiu servidores da Vice-Presidência a facilitar o trabalho de transição, tornando disponíveis todas as informações para a equipe do presidente eleito.O Estadão apurou que foi Alckmin, ex-governador de São Paulo, que telefonou para Mourão a fim de agradecer uma mensagem de felicitações que havia recebido do atual vice. Bolsonaro, porém, não havia ligado para Lula até o fechamento desta conclusão.Derrotado na tentativa de se reeleger, Bolsonaro ainda não havia se pronunciado e preparava um discurso forte, após ter recebido sugestões de ministros ao longo do dia. Na manhã de ontem, o presidente se reuniu com Mourão, no Palácio do Planalto.
O general não dividiu o teor da conversa com sua equipe. A interlocutores, Mourão disse apenas que não tratou sobre qual será seu papel na transição e que preferia aguardar uma posição de Bolsonaro antes do diálogo com Alckmin, com quem entrou em contato à tarde.
Em recente entrevista ao Estadão, Mourão afirmou que faria "oposição ferrenha" a Lula no Senado, mas "não oposição ao Brasil". "Se uma pauta que for colocada por um eventual governo Lula estiver de acordo com aquilo que eu considero que é importante para o País, vai ter meu apoio", afirmou o vice.
COMITÊ NO TCU. O Tribunal de Contas da União (TCU), sob presidência do ministro Bruno Dantas, decidiu supervisionar o processo de transição do governo federal em duas frentes. Uma delas se dará a partir da criação de um comitê de ministros da Corte que fará uma supervisão dos aspectos administrativos, operacionais, financeiros e orçamentários referentes à transição.
A Corte tem competência para monitorar, como a lei obriga, a estrutura montada pelo governo ao vencedor com recursos do orçamento da própria Presidência para viabilizar a transição. O TCU, assim, vai abrir um processo de acompanhamento da transição, que será relatado pelo ministro Antonio Anastasia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.