(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira que sempre avaliou que o real estava muito desvalorizado e viu a recente queda do dólar como "natural", acrescentando que a moeda doméstica pode ir a patamares ainda mais "adequados" caso o Congresso colabore com a agenda de recuperação fiscal do governo.
Falando na embaixada brasileira em Pequim, onde está acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita oficial, Haddad disse ainda que o governo brasileiro vai aprofundar estudos sobre a realização de transações comerciais com moedas alternativas ao dólar e avaliou que a China está entusiasmada com a possibilidade de participar de projetos de infraestrutura no Brasil.
"Se o Congresso for sensível a essa agenda que estamos estabelecendo de recuperação da base fiscal..., se nós formos bem sucedidos também frente ao judiciário em relação a temas que têm impacto fiscal muito forte --sobre os quais temos muita segurança de estarmos indo na direção correta-- eu penso que seria natural o real voltar para um patamar mais adequado", disse o ministro sobre o mercado de câmbio.
A moeda norte-americana à vista está a caminho de encerrar esta semana em forte queda e bem abaixo da marca psicológica de 5 reais, em parte por um ambiente externo favorável, mas também refletindo a reação positiva de investidores à proposta do novo arcabouço fiscal do governo, que ainda não foi apresentado formalmente ao Congresso.
Num geral, há expectativas otimistas dentro do governo sobre a aprovação do texto pelos parlamentares.
Sobre alternativas à divisa norte-americana no que diz respeito ao comércio, Haddad disse que "a ideia de você fazer um intercâmbio comercial em moedas próprias, sem recorrer a uma moeda de um terceiro, é uma coisa que está há muito tempo na mesa de negociação entre os Brics no âmbito do Mercosul".
Segundo ele, Lula pediu para as áreas econômicas de Brasil e China se debruçarem sobre esse tema e aprofundarem as possibilidades.
O ministro afirmou que o Brasil quer se aproximar de três gigantes comerciais: EUA, China e União Europeia. Segundo Haddad, a Espanha --que assumirá a presidência do Conselho da UE a partir de julho deste ano-- está "bastante engajada" nas negociações do acordo comercial Mercosul-UE.
Em relação à China, Haddad disse que o país está entusiasmado com a possibilidade de participar de licitações de grandes projetos de infraestrutura no Brasil. Ele afirmou que foi discutida a possível instalação de uma montadora chinesa de carros elétricos no Brasil, em possível menção às negociações da BYD com o Estado da Bahia.
"Penso que essa agenda inaugura um novo desafio para o Brasil, que é atrair investimentos industriais diretos da China no Brasil, mediante a criação de oportunidade de emprego e visando um tipo de reindustrialização compatível... com uma agenda de sustentabilidade", afirmou o ministro.
(Por Lisandra Paraguassu, em Brasília; Reportagem adicional de Luana Maria Benedito e Fernando Cardoso, em São Paulo)