Para cumprir com o pedido de Israel para deixar a região Norte da Faixa de Gaza, palestinos têm de percorrer um trajeto de cerca de 13,8 quilômetros até o ponto de saída na ponte de Wadi Gaza, região central do território.
O percurso até a ponte equivale a uma caminhada de cerca de 3h ou um trajeto de 30 minutos de carro. O território inteiro da Faixa de Gaza tem 365 km², sendo 41 km de comprimento e 10 km de largura.
A chamada “zona tampão” é uma área de cerca de 2 km de largura e 58 km de comprimento que separa o território da Faixa de Gaza a Israel. Ela foi instituída por Israel em 2006 e é cercada por aparatos militares israelenses para controlar a entrada e saída de pessoas e de insumos. No entanto, palestinos constroem túneis subterrâneos para atravessar a fronteira.
Na 5ª feira (12.out.2023), as Forças Armadas israelenses pediram que os moradores na região Norte de Gaza deixem suas casas em até 24 horas e se direcionem para a parte sul do território. A região ao norte da Faixa de Gaza é onde se concentra a maior parte do fogo cruzado entre Israel e o grupo extremista Hamas.
Israel justificou o pedido de saída afirmando que ela seria “para a própria segurança” dos habitantes da região. No entanto, o Hamas orientou que os palestinos permaneçam em suas casas. Os combatentes alegam que, se realizada, a saída de civis deixaria o grupo exposto a ataques realizados por terra.
Em resposta ao pedido israelense, o porta-voz da ONU (Organização das Nações Unidas), Stephane Dujarric, disse ser “impossível” os palestinos se deslocarem para o sul no tempo dado “sem consequências humanitárias devastadoras”. O período terminou nesta 6ª feira (13.out), por volta das 18h (horário de Brasília).
De acordo com a organização internacional, mais de 423 mil moradores da Faixa de Gaza já deixaram suas casas e se deslocaram por conta do conflito. O número representa cerca de 20% da população do território.
Deslocados são pessoas que se movimentam dentro de seu próprio território, ou seja, sem atravessar as fronteiras, por motivos de guerras ou conflitos armados.
A maioria dessas pessoas está abrigada em escolas da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para os Refugiados da Palestina no Oriente Próximo, em português).
Mais de 3.000 pessoas já morreram desde o início da guerra, em 7 de outubro. A maior parte das vítimas (1.799) são palestinas, segundo o Ministério da Saúde local.
Os números não contemplam os 1.500 corpos de combatentes do Hamas que as Forças de Israel disseram ter encontrado.
ENTENDA O CONFLITO
Embora seja o maior conflito armado na região nos últimos anos, a disputa territorial entre palestinos e judeus se arrasta por décadas. Os 2 grupos reivindicam o território, que possui importantes marcos históricos e religiosos para ambas as etnias.
O Hamas (sigla árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”) é a maior organização islâmica em atuação na Palestina, de orientação sunita. Possui um braço político e presta serviços sociais ao povo palestino, que vive majoritariamente em áreas pobres e de infraestrutura precária, mas a organização é mais conhecida pelo seu braço armado, que luta pela soberania da Faixa de Gaza.
O grupo assumiu o poder na região em 2007, depois de ganhar as eleições contra a organização política e militar Fatah, em 2006.
A região é palco para conflitos desde o século passado. Há registros de ofensivas em 2008, 2009, 2012, 2014, 2018, 2019 e 2021 entre Israel e Hamas, além da 1ª Guerra Árabe-Israelense (1948), a Crise de Suez (1956), Guerra dos 6 Dias (1967), Guerra do Yom Kippur (1973), a 1ª Intifada (1987) e a 2ª Intifada (2000). Entenda mais aqui.
Os atritos na região começaram depois que a ONU (Organização das Nações Unidas) fez a partilha da Palestina em territórios árabes (Gaza e Cisjordânia) e judeus (Israel), em 1947, na intenção de criar um Estado judeu. No entanto, as lideranças árabes não aceitaram a divisão.
ATAQUE A ISRAEL
O Hamas, grupo radical islâmico de orientação sunita, realizou um ataque surpresa a Israel no sábado (7.out). Israel declarou guerra contra o Hamas e começou uma série de ações de retaliação na Faixa de Gaza, território palestino que faz fronteira com Israel e é governado pelo Hamas.
Os ataques do Hamas se concentram ao sul e ao centro de Israel. Caso o Hezbollah faça novas investidas na fronteira com o Líbano, um novo foco de combate pode se estabelecer ao norte de Israel.
O tenente-coronel israelense Richard Hecht afirmou que o país “olha para o Norte” e que espera que o Hezbollah “não cometa o erro de se juntar [ao Hamas]”.
Saiba mais sobre a guerra em Israel:
- o grupo extremista Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel em 7 de outubro e assumiu a autoria dos ataques no dia seguinte;
- cerca de 2.000 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza. Extremistas também teriam se infiltrado em cidades israelenses –há relatos de sequestro de soldados e civis;
- Israel respondeu com bombardeios em alvos na Faixa de Gaza;
- o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou (8.out) guerra ao Hamas e falou em destruir o grupo;
- líderes mundiais como Joe Biden e Emmanuel Macron condenaram os ataques –entidades judaicas fizeram o mesmo;
- Irã e o grupo extremista Hezbollah comemoraram a ação do Hamas –saiba como é o interior de túneis usados pelo Hezbollah na fronteira entre o Líbano e Israel;
- o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, determinou na 2ª feira (9.out) um “cerco completo” à Faixa de Gaza. Segundo a ONU, ação é proibida pelo direito humanitário internacional;
- O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky comparou o conflito à guerra na Ucrânia. Afirmou que o Hamas é uma “organização terrorista”, enquanto a Rússia pode ser considerada um “Estado terrorista”;
- Lula chamou os ataques do Hamas de “terrorismo”, mas relativizou episódio;
- Haverá uma operação do governo para repatriar brasileiros em áreas atingidas pelos ataques. Serão 5 voos para buscar 900 pessoas. O 1º avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para resgate pousou em Tel Aviv nesta 3ª feira (10.out). A operação deve ser concluída no domingo (15.out);
- Embaixada de Israel no Brasil chamou Hamas de “ramo” do regime iraniano;
- Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, também se pronunciaram e fizeram apelo pela paz;
- Bolsonaro (PL) repudiou os ataques e associou o Hamas a Lula;
- Governo começou negociação com o Egito para resgatar brasileiros por meio da fronteira terrestre –a ONU aprovou a proposta;
- O Itamaraty confirmou a morte dos 3 brasileiros que desapareceram durante a rave bombardeada: Ranani Glazer, Bruna Valeanu e Karla Mendes;
- Embaixador do Brasil em Israel disse que não há informações oficiais a respeito de brasileiros sequestrados pelo Hamas;
- Governo afirmou que cerca de 20 brasileiros desejam deixar a Faixa de Gaza;
- ENTENDA – saiba o que é o Hamas e o histórico do conflito com Israel;
- ANÁLISE – Conflito é entre Irã e Israel e potencial de escalada é incerto;
- OPINIÃO – Dias incertos para o mercado de petróleo, escreve Adriano Pires;
- FOTOS E VÍDEOS – veja imagens da guerra na playlist especial do Poder360 no YouTube.
Eis outras publicações a respeito do conflito:
- Conselho de Segurança se reúne para discutir guerra em Israel;
- Ataques aéreos israelenses matam 13 reféns em Gaza, diz Hamas;
- Guerra pode escalar em “outras frentes” se ataques seguirem, diz Irã;
- Petróleo sobe mais de 4% com guerra entre Israel e Hamas.