Por Lisandra Paraguassu
RIO DE JANEIRO (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, em reunião de cúpula do G20, que uma taxação de 2% sobre a renda dos super-ricos poderia render 250 bilhões de dólares que poderiam ser usados em ações relacionadas às mudanças
climáticas e no combate à desigualdade.
"É urgente rever regras e políticas financeiras que afetam desproporcionalmente os países em desenvolvimento", discursou Lula na abertura da segunda reunião plenária do G20 no dia, que tratou da reforma da governança global.
"A cooperação tributária internacional é crucial para reduzir desigualdades. Uma taxação de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar recursos da ordem de 250 bilhões de dólares por ano para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais do nosso tempo", acrescentou.
A proposta de taxação dos super-ricos é um dos principais temas da presidência brasileira do G20, e foi aprovada por consenso pelos membros do grupo nos meses de negociações que antecederam a cúpula.
No entanto, nas negociações finais para a declaração dos líderes, o governo argentino inverteu sua posição e pediu a retirada do parágrafo sobre o tema, no que não foi atendido.
A tendência é que a declaração seja publicada com uma "side note" de que a Argentina foi contrária, mas com a aprovação dos outros signatários.
Em sua fala, Lula também afirmou que na crise econômica de 2008 -- que levou à criação do G20 -- optou-se por salvar bancos e o setor privado, em vez de investir nas pessoas, e quando o mundo voltou a crescer, cresceu também a desigualdade.
"Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sob ameaça. A globalização neoliberal fracassou", defendeu.
O G20, no entanto, é o grupo melhor posicionado para encabeçar as reformas necessárias, disse Lula, celebrando o fato de a proposta brasileira de reformar as instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU e o Banco Mundial e ao FMI, ter finalmente entrado na pauta global.
"A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio. O futuro será multipolar. Aceitar essa realidade pavimenta o caminho para a paz", disse. "A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo."
(Edição de Pedro Fonseca)