O ex-presidente Donald Trump comentou nesta 4ª feira (4.out.2023) sobre a possibilidade de assumir o posto de presidente da Câmara dos EUA, vago desde a destituição de Kevin McCarthy na 3ª (3.out). Disse que “muitas pessoas” o tem questionado sobre o cargo e que fará “o que for melhor para o país, para o Partido Republicano, e para as pessoas”, mas que está focado na corrida presidencial.
“Muitas pessoas me questionaram a respeito disso… Minha total dedicação está voltada para [a eleição presidencial]. Mas se eu puder auxiliá-los [os republicanos] durante o processo, eu o farei”, disse Trump a jornalistas ao deixar o tribunal em Nova York onde ocorria o 3º dia do julgamento civil de fraude movido contra ele.
Uma possível indicação se daria por causa de uma brecha constitucional. A Constituição dos EUA não estabelece objetivamente a necessidade de o presidente da Câmara ser integrante da Câmara dos Representantes, embora, historicamente, todos os líderes nomeados tenham sido parlamentares.
No documento consta apenas que “a Câmara dos Representantes escolherá o seu Orador e outros Oficiais”, sem mencionar se o orador deve fazer parte do Congresso. A ausência de um critério mais específico para determinar quem é elegível para ocupar a posição levou a especulações sobre a possibilidade de um líder que não seja integrante da Câmara ocupar o cargo. Para os republicanos, isso significaria que Trump, que não é membro do Congresso, estaria apto a desempenhar a função.
Alguns acreditam, entretanto, que Trump, atualmente competindo com Joe Biden pela Casa Branca nas eleições presidenciais de 2024, não entraria na corrida para a nomeação como orador da Câmara, pois seria improvável que ele conseguisse reunir os 218 votos necessários para a eleição.
Além disso, as atuais normas da Câmara dos Republicanos impedem que indivíduos acusados de crimes graves assumam posições de liderança. No caso de Trump, ele já enfrenta 4 processos criminais, incluindo acusações relacionadas à tentativa de alterar o resultado da eleição presidencial de 2020 na Geórgia e incitar a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Indicações
O líder da maioria republicana na Câmara dos EUA, Steve Scalise, e o deputado Jim Jordan, de Ohio, lançaram oficialmente suas candidaturas à presidência da Casa Baixa nesta 4ª (4.out).
O ex-presidente da Câmara, Kevin McCarthy, desistiu de tentar recuperar o cargo. O republicano foi destituído na 3ª (3.out), depois de a Casa aprovar uma moção por 216 votos a favor e 210 contra para retirar o congressista.
A Câmara se reunirá na próxima 4ª (11.out) para realizar eleições internas e nomear o substituto de McCarthy. São necessários ao menos 218 votos para a aprovação. Segundo a Reuters, os republicanos devem ouvir todos os candidatos na 3ª feira (10.out).
O funcionamento da Câmara está paralisado e será retomado quando um novo presidente for eleito. O deputado Patrick McHenry, da Carolina do Norte, foi nomeado presidente interino. Ele suspendeu as atividades da Câmara para que democratas e republicanos escolham os indicados para a disputa.
Scalise, de 57 anos, está no Congresso desde 2008. É mais conservador do que McCarthy e o favorito entre muitos republicanos para assumir o cargo. No entanto, ele foi diagnosticado com um câncer raro no sangue em agosto e enfrenta um tratamento intenso contra a doença.
Steve Jordan, de 59 anos, está no Congresso desde 2007. O deputado é presidente do Comitê Judiciário da Câmara e aliado do ex-presidente. Segundo o New York Times, já usou sua posição no comitê para intervir em vários processos no qual Trump estava envolvido.
SAÍDA DE McCARTHY
A destituição de McCarthy do cargo de presidente da Câmara dos Estados Unidos partiu de republicanos conservadores insatisfeitos com a gestão do líder nos gastos governamentais e nas negociações com o presidente Joe Biden.
McCarthy foi eleito para o cargo de presidente da Câmara em janeiro deste ano. Foram necessárias 15 rodadas de votações para que o deputado representante do 20º distrito da Califórnia fosse escolhido. Ele não conseguiu o apoio de republicanos da ala mais conservadora do partido para ser eleito e precisou negociar concessões para que a situação fosse revertida.
Nos meses seguintes, esse grupo de parlamentares ficou cada vez mais insatisfeito com a abordagem do presidente da Câmara em relação ao governo. A desaprovação de McCarthy entre os republicanos conservadores se intensificou quando o congressista fechou acordos com o presidente Biden e os democratas para aumentar o limite da dívida dos Estados Unidos em maio.
Na semana passada, o presidente da Câmara também teve dificuldades para ter a aprovação do financiamento dos serviços públicos para 2024 e evitar a paralisação do governo por causa da resistência republicana.