Money Times - A Qualicorp (SA:QUAL3) rebateu ontem (2), após o fechamento do mercado, as críticas que têm sofrido do mercado após um acordo fechado com o seu presidente e fundador, José Seripieri Filho, e que envolve o pagamento de R$ 150 milhões para impedir que ele deixe a companhia e não venda as suas ações (ele detém 15% do capital da companhia). Após a queda de 29,37% na segunda-feira, os papéis respiraram 10,91% na terça-feira. Vale lembrar que, no início do ano, foi aprovado o aumento de seu salário de R$ 1,2 milhão para R$ 24 milhões por ano.
Segundo a empresa, a decisão de dar essa bolada para Júnior – como é conhecido no mercado – “decorreu de análise e debates, ao longo de vários meses, com a consultoria de renomados especialistas de diversas áreas (jurídica, recursos humanos e gerenciais) levando em consideração as práticas e referências de mercado”. Além disso, vê o valor como adequado.
De acordo com a coluna do jornalista Lauro Jardim, no jornal O Globo, o mercado especulava que, Junior, como é conhecido o executivo, poderia vender toda a sua participação e acabar abrindo uma outra empresa do mesmo setor.
Já com a CVM em seu encalço, a Qualicorp reforçou que Júnior não participou da Assembleia Geral Ordinária que elegeu o atual Conselho de Administração e não teve interferência ou participação nas reuniões e disse que “lamenta que ilações e conclusões precipitadas possam ter causado apreensão ao mercado”. O regulador do mercado abriu um processo para apurar as “transações entre partes relacionadas” da empresa.
Mesmo com a Qualicorp achando tudo isso normal, o Bradesco BBI divulgou relatório em que, após participar de teleconferência (escute aqui), não consegue ver como este acordo poderia beneficiar o minoritário. O banco também questiona o óbvio: “Por que Seripieri consideraria sair para competir com a empresa que ele próprio criou, e na qual ele ainda detém 15% e por que o Conselho se sente tão vulnerável em relação a essa potencial concorrência?”.
A decisão do analista Luciano Campos foi aplicar um desconto sobre a Governança Corporativa e reduzir o preço-alvo de R$ 25 para R$ 16. O BTG Pactual (SA:BPAC11) seguiu a mesma linha e reduziu a recomendação das ações para neutra, com preço-alvo em 12 meses de R$ 17,00. O banco entende que essa foi uma péssima mensagem de governança corporativa.
A XP Gestão, cujos fundos têm grande participação na empresa, já manifestou o interesse de defender os interesses dos acionistas minoritários em um eventual questionamento na Justiça. A Empiricus Research declarou que e coloca à disposição para eventualmente ajudar, reunindo procurações de seus assinantes para eventual posterior disputa em Assembleia. O estrategista chefe da empresa, Felipe Miranda, classificou a manobra da Qualicorp de “ultrajante”.
Não caberia relatar aqui os comentários dos minoritários, mas é fácil de se imaginar. Se a empresa tem medo de seu próprio fundador e presidente, agora pode também começar a se preparar para enfrentar os seus minoritários.
Por Money Times