SÃO PAULO (Reuters) - Incertezas sobre o desfecho da eleição presidencial no Brasil devem continuar adicionando volatilidade às ações da Petrobras (BVMF:PETR4) no próximos pregões, mas há chance para mais alta dos papéis, avalia o analista do Citi Gabriel Barra.
Esse potencial "upside", porém, diz, depende da continuidade da estratégia atual da companhia, com boa alocação de capital, manutenção da atual política de dividendos, desalavancagem, alinhamento a preços internacionais, entre outros componentes.
"É uma empresa que gera muito caixa, que tem grandes projetos para os próximos anos, principalmente no pré-sal, então colocando tudo isso na conta, nesse cenário, a empresa tem ainda 'upside'", afirmou à Reuters.
Mesmo com a volatilidade pela eleição, as preferenciais da Petrobras acumulam em 2022 valorização de cerca de 78%, entre os melhores desempenhos no ano do Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, que sobe 10% no mesmo período.
Uma fonte do alto escalão da companhia afirmou recentemente à Reuters que o movimento "demonstra a confiança na atual gestão, no respeito a regras de mercado e, principalmente, a expectativa de que não vão ocorrer retrocessos na Petrobras".
No segundo trimestre, a empresa registrou forte crescimento em lucros e receitas, além de recuo no endividamento e pagamento trimestral recorde em dividendos.
Os números do terceiro trimestre estão previstos para 3 de novembro. Analistas esperam um resultado "sólido" e dividendos acima de 6 bilhões de dólares no período.
Na visão de Barra, o pior cenário para a petroleira seria uma maior interferência do governo, com potenciais efeitos nocivos em caixa, governança e alocação de capital da companhia, bem como eventual mudança na política de dividendos e de preços.
"Nesse cenário, se deveria ver um 'downside' (espaço de queda) relevante para a Petrobras", estima.
O prognóstico mais positivo para os investidores, de acordo com o analista, seria o da privatização, em que as ações da Petrobras poderiam ser negociadas em linha ou quiçá acima das principais empresas do exterior.
Ele observa que a empresa tem um portfólio de projetos interessantes, principalmente no pré-sal, com perspectiva de aumento da produção e diminuição de custo, o que endossa expectativa de geração de caixa cada vez mais robusta.
Esse quadro alinhado com a privatização, na visão do analista, poderia destravar valor nos papéis, que atualmente têm múltiplos descontados em relação a pares globais.
Para Barra, esse desconto reflete em boa parte a incerteza que circunda a companhia hoje pelo cenário eleitoral e pela questão do que será a estratégia de longo prazo da companhia.
Ele não atrelou os cenários a qualquer dos candidatos --Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL)-- que travam uma disputa acirrada para o segundo turno, mas o desempenho recente das ações evidencia a quem o mercado atribui as hipóteses. Na semana passada, as preferenciais da Petrobras acumularam alta de quase 13%, renovando máximas históricas, em parte refletindo perspectivas mais otimistas para o desempenho de Bolsonaro, que já aventou a chance de privatizar a empresa.
O ataque do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) contra policiais federais no último domingo, porém, adicionou dúvidas sobre uma virada de Bolsonaro, o que desencadeou uma forte correção nos papéis da estatal no começo desta semana.
Apenas na segunda-feira, as PNs desabaram 9,2%, a maior queda percentual diária em fechamento desde fevereiro de 2021. Nesta terça-feira, as ações cediam 1,3%, a 33,80 reais.
"Todo ano de eleição é volátil e não dá para desconsiderar isso", afirmou, acrescentando que o problema é a incerteza acerca do que acontecerá. "Isso torna o mercado volátil", reforçou. "O risco a gente sabe precificar. A incerteza, não."
O Citi tem recomendação de "compra" para os ADRs da Petrobras, com preço-alvo de 19 dólares, que representa um potencial de valorização de mais de 30% da cotação atual.
(Por Paula Arend Laier; com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)