Por Marcelo Teixeira
CAMPINAS (Reuters) - Cafeicultores e cooperativas brasileiras venderam grandes volumes de café nos mercados futuros aproveitando um aumento nos preços em antecipação às geadas nas regiões produtoras no último fim de semana, segundo produtores e operadores do mercado.
Fundos e especuladores cobriram posições vendidas em futuros de arábica de Nova York e no mercado robusta de Londres na semana passada em meio às primeiras previsões de uma forte massa polar movendo-se para regiões produtoras no Brasil, o maior produtor de café do mundo, enviando futuros para os maiores patamares de preço em sete meses.
Isso deu aos produtores que têm acesso rápido aos mercados futuros através de bancos ou cooperativas a possibilidade de fixar preços e garantir valores mais altos para sua produção atual e futura, com alguns produtores vendendo café para entrega tão distante quanto 2021.
"Em um dia da semana passada recebemos pedidos de venda de 250.000 sacas de produtores, foi um volume muito grande", disse Lucio Dias, diretor comercial da Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo e a maior exportadora do Brasil.
As cooperativas no Brasil definem os preços em moeda local para os produtores, facilitando suas vidas. Depois de receber ordens de agricultores, eles vendem uma posição equivalente em Nova York, no caso do arábica, e fecham outro contrato na bolsa local B3 no Brasil para evitar flutuações nas taxas de câmbio, os chamados contratos de NDF (non deliverable forwards).
A maioria dos produtores de café no Brasil está ligada a cooperativas que fornecem preços instantâneos diários por meio de aplicativos de mensagens, permitindo que os produtores aproveitem rapidamente os picos de preços.
"Nossa regra é: os fazendeiros só vendem café nas altas, os fundos é que vendem café nas baixas", disse Dias à Reuters durante o 2o Fórum Mundial de Produtores de Café.
Marcos Dianin, um produtor de café na região do Cerrado em Minas Gerais, trabalha com uma ferramenta similar com outra cooperativa.
Mas ele disse que há limites para o sistema, já que os mercados futuros só aceitam café de alta qualidade, e os produtores tendem a produzir alta e baixa qualidade.
"Cerca de 40% do meu café é de alta qualidade. O restante eu tenho que vender a preços mais baixos no mercado spot", disse.
Agricultores de outros países da África e da América Central que têm menos experiência com essas ferramentas discutiam durante o fórum maneiras de lucrar com picos de preços.
Em alguns países, os produtores acabam com apenas 50% ou 60% do preço de venda, com os intermediários levando o resto.