Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - O salto no preço do petróleo após ataques a instalações na Arábia Saudita é visto como um fator de sustentação ao já positivo cenário do etanol no Brasil, segundo analistas e representantes do setor, reduzindo ainda mais a atratividade de produção de açúcar para as usinas no país.
Se os preços mais altos do petróleo levarem a um avanço nos valores da gasolina no Brasil, a significativa vantagem do custo do etanol sobre o combustível fóssil nas bombas seria mantida, ou até ampliada, sustentando a forte demanda e melhores margens de lucro para as usinas, disseram eles.
Considerando que esse cenário ocorra, as usinas continuarão a favorecer fortemente a produção de etanol ante a de açúcar nesta temporada, reduzindo as expectativas para a produção do adoçante em 2019.
"Mas tudo depende do que a Petrobras (SA:PETR4) fará, se irá passar para a gasolina o aumento nos preços internacionais", disse Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
A Petrobras, cuja participação no refino de petróleo do Brasil é quase total, define os preços para gasolina e diesel no país.
A estatal adotou há dois anos a política de acompanhar os preços internacionais do petróleo, mas tem enfrentado pressão do governo federal para limitar as altas, à medida que a nova administração tenta aumentar sua popularidade.
Após o ataque à Arábia Saudita no sábado, a empresa disse que adotará cautela quanto às decisões de preços. Os valores do petróleo recuavam nesta terça-feira, mas permanecem muito acima dos vistos na semana passada.
"Será um teste para a Petrobras, vamos ver", disse Rodrigues. No passado, a Unica criticou a companhia por não ajustar os preços internos dos combustíveis quando os valores do petróleo mudavam no mercado internacional.
Tomas Manzano, estrategista da Copersucar, importante comercializadora brasileira de açúcar e etanol, afirmou que o novo risco geopolítico deve sustentar os preços do petróleo em níveis mais altos nos próximos meses, abrindo espaço para que os preços do etanol também aumentem.
"A expectativa é de algum aumento no preço da gasolina, o que vai beneficiar o etanol", disse Manzano à Reuters durante a Novacana Ethanol Conference 2019.
Fabio Meneghin, analista de açúcar e etanol da Agroconsult, afirmou que as usinas podem reduzir as vendas de etanol no mercado à vista ("spot") nesta semana, aguardando por uma possível ação da Petrobras.
A consultoria FG/A, entretanto, possui uma visão diferente. O sócio Juliano Merlotto acredita que os altos níveis de produção de etanol no Brasil acarretarão estoques muito grandes nos próximos meses, pressionando os preços e margens de lucro para as usinas.
"Os preços do petróleo provavelmente devem retornar aos níveis anteriores uma vez que a situação de oferta se estabilize, e então teremos muito etanol no mercado", disse.
(Reportagem de Marcelo Teixeira)