As incertezas sobre uma capitalização do trio de acionistas bilionários da Americanas (BVMF:AMER3) e a batalha de ações judiciais entre a varejista e os grandes bancos pode encurtar o tempo que a companhia conseguirá manter suas operações. Sem dinheiro em caixa nem crédito na praça, especialistas ouvidos pelo Estadão disseram que estoques da companhia não devem ultrapassar quatro meses, o que poderia precipitar a falência da companhia.
Apesar das divergências em relação a um prazo final, nomes do mercado e do varejo concordaram que sem a injeção de dinheiro para viabilizar compras à vista daqui três meses- uma demanda de fornecedores receosos com a ideia de "calote" -, os centros de distribuição da Americanas não verão caminhões descarregar mercadoria. Isso porque tradicionalmente os pedidos têm esse período para serem entregues pelos fornecedores. "Se não houver reabastecimento, vários itens começam a faltar, mesmo antes desse prazo", afirmou Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial.
A crise financeira da Americanas, que viu seu caixa minguar de R$ 7,8 bilhões para R$ 800 milhões em poucos dias, deixou os analistas apreensivos em relação ao futuro da companhia sem um aporte robusto dos acionistas Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.
"Olhando a folha de funcionários, o caixa equivaleria a 4 meses e meio de operação. Porém, há outros problemas que consomem caixa, como a negociação com fornecedores, que estão pedindo pagamento à vista", afirmou Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.
Para Victor Bueno, sócio da Nord Reserch, "ainda é cedo" para estimar o prazo final do caixa da empresa, mas a varejista terá de reportar aos investidores os resultados dos últimos anos para se ter uma estimativa mais clara de quanto tempo a companhia terá de operação. "O que se sabe é que ela (Americanas) vai precisar de um aporte dos sócios. Se não acontecer, dificilmente ela honrará suas obrigações."
Assim como Bueno, Fábio Sobreira, analista chefe da Harami Reserch, afirmou que incerteza em relação aos prazos estão diretamente ligados às "inconsistências contábeis" apresentadas no balanço da companhia e a falta de credibilidade dos dados. "Se o balanço está todo errado, como o próprio Sérgio Rial diz, nós entendemos que tudo o que vemos no balanço são apenas números jogados ao vento."
'UTI'
Para Ulysses Reis, da Strong Busines School (SBS), a expectativa do mercado é a de que o próximo balanço da Americanas, que deve ser divulgado nas próximas semanas, traga os resultados do quarto trimestre já levando em consideração o rombo de mais de R$ 42 bilhões nas contas e mostrando a saúde dos estoques da varejista. "A quebra de estoque já é certa. Qual é o fornecedor que vai querer vender para uma empresa que já está praticamente na 'UTI'?", disse Reis.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.