Por Daniel Alvarenga
LISBOA (Reuters) - A oferta feita pela empresária angolana Isabel dos Santos para uma aquisição da Portugal Telecom SGPS tem poucas chances de sucesso pois o prêmio oferecido é baixo e a operação pode enfrentar problemas regulatórios, afirmaram analistas nesta segunda-feira.
"A oferta poderá colocar na mesa uma saída rápida para alguns acionistas (da Portugal Telecom SGPS), incluindo o NovoBanco, que detém 10 por cento e precisa vender, mas, no geral, pensamos que a proposta vai acabar fracassando", disse Javier Borrachero, analista do KeplerCheuvreux.
No domingo, a Terra Peregrin, controlada pela empresária angolana, que é filha do presidente de Angola, lançou uma oferta pública de aquisição da Portugal Telecom SGPS, empresa cujos ativos representam participação de cerca de um quarto na brasileira Oi e 900 milhões de euros em dívida não paga pela holding Rioforte, empresa da família portuguesa Espírito Santo que entrou em colapso.
Os termos da oferta são de 1,35 euro por ação. O papel da Portugal Telecom SGPS fechou a sexta-feira cotado a 1,217 euro. As negociações das ações do grupo português foram suspensas nesta segunda-feira para permitir aos investidores analisar a oferta lançada por Isabel dos Santos.
"Não temos certeza da razão pela qual Isabel dos Santos agiu desta forma, mas acreditamos que as possibilidades de sucesso podem ser limitadas, considerando não apenas o prêmio baixo, mas, acima de tudo, as condições para que a oferta possa avançar", disse a equipe de analistas do Espírito Santo Investment Bank.
A KeplerCheuvreux alertou que a oferta pode ser "muito oportunista", sendo uma forma de atrasar ou dificultar uma venda dos ativos portugueses da Portugal Telecom controlados pela Oi. Na semana passada, o grupo europeu Altice fez uma oferta de 7 bilhões de euros pelos ativos operacionais da Oi em Portugal.
No início do mês, a Zopt, acionista controladora do grupo de telecomunicações português NOS, entrou na batalha pela Portugal Telecom para defender o que chamou de "interesse nacional". A NOS, segunda maior operadora de telecomunicações de Portugal, é detida pela empresária angolana e pelo conglomerado português Sonae.
"Não achamos que os reguladores da competição permitirão que Isabel dos Santos controle a NOS e exercite qualquer influência na Portugal Telecom através da Oi", disse a KeplerChevreaux.
Os analistas do Espírito Santo Investment Bank afirmaram que acionistas da Portugal Telecom SGPS se beneficiarão mais se não aceitarem a oferta da empresária angolana, deixando a Oi seguir uma estratégia de venda de ativos que permita ao grupo brasileiro participar de movimentos de consolidação no Brasil.
"Acreditamos que a vantagem potencial para os acionistas da Portugal Telecom seria mais elevada se a Oi continuar seu rumo de venda de ativos para participar na consolidação do mercado celular brasileiro", disseram os analistas.