Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Surpreendida com a renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, a cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ainda não sabe quem vai apoiar na próxima eleição para o comando da entidade, de acordo com o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, que garantiu que a decisão do suíço não terá qualquer influência no comando do futebol no país.
Em entrevista à Reuters por telefone na noite de terça-feira, Feldman afirmou que até agora a cúpula da CBF ainda procura entender os reais motivos que levaram Blatter a renunciar ao cargo. A decisão foi tomada apenas quatro dias após Blatter ser reeleito para o quinto mandato, em meio a um escândalo de corrupção na entidade investigado por autoridades norte-americanas.
"Foi uma decisão de caráter pessoal. Aqui a CBF continua com o Marco Polo (Del Nero). Não há possibilidade de renúncia e não temos nenhum abalo por conta disso. As denúncias não caracterizam nenhum envolvimento do nosso presidente", disse o secretário-geral na entrevista, em referência ao atual presidente da CBF.
O antecessor de Del Nero no cargo, José Maria Marin, foi preso junto a outros dirigentes do futebol na Suíça, na semana passada, como parte de uma investigação de autoridades norte-americanas sobre esquema de corrupção e suborno na Fifa, que desencadeou uma crise na cúpula do futebol mundial.
Feldman frisou que as denúncias apresentadas até agora pela Justiça dos EUA não incriminam a atual gestão da CBF e são insuficientes para se levantar suspeitas contra Del Nero. "Uma denúncia por si só não pode mudar uma estrutura", destacou.
A partir da renúncia de Blatter e a convocação de novas eleições, a CBF pretende se reunir agora com os pares da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) para decidir qual rumo tomar. Ao longo da era Blatter, a América do Sul tradicionalmente foi um bastião de apoio ao dirigente suíço.
"Ainda é cedo para definir o comportamento político eleitoral para a eleição na Fifa. Temos que ver os candidatos e até março muita coisa vai acontecer", disse o secretário-geral da CBF, que assumiu o cargo após a posse de Del Nero, em abril.
Diversos nomes surgiram até o momento como possíveis candidatos à presidência da Fifa, incluindo o príncipe jordaniano Ali Bin al-Hussein, derrotado por Blatter na última eleição, o presidente da Uefa, Michel Platini, e até o ex-jogador brasileiro Zico.
Com larga carreira política e participação direta na campanha da candidata Marina Silva nas eleições presidências de 2014, Feldman deve ser o escolhido pela CBF para atuar junto aos parlamentares na CPI do futebol a ser aberta no Senado.
O principal articular da CPI é o senador Romário, crítico ferrenho da CBF mas filiado ao PSB, partido pelo qual Marina disputou a Presidência no ano passado.
Para o secretário-geral da CBF, Romário até hoje não deu nenhuma contribuição fora dos campos para a melhora do futebol nacional.
"No futebol, o que ele deu de contribuição como parlamentar? Agora está tendo uma postura arrogante ao dizer o que tem que ser, como vai ser", afirmou. "O instrumento político e eleitoral dele é a postura de crítica à CBF. Ele usa xingamentos que nunca vi um parlamentar fazer. Ele desqualifica o debate. Não tem dialogo e não tem democracia assim. Ele usa tribuna para fazer xingamento de rua", acrescentou.
Romário têm feito críticas pesadas a Del Nero desde a semana passada, e na terça-feira pediu que o presidente da CBF seguisse os passos de Blatter e também renunciasse.