Por Sui-Lee Wee
PEQUIM (Reuters) - A jornalista francesa Ursula Gauthier foi forçada a deixar a China após o governo se recusar a renovar suas credenciais de imprensa para o novo ano, em resposta a uma reportagem crítica sobre as políticas de Pequim para a região problemática de Xinjiang.
A partida de Ursula, uma repórter da revista francesa L'Obs, marcou a primeira vez em mais de três anos que um jornalista foi forçado a deixar a China devido à recusa das autoridades em renovar as credenciais.
O Ministério de Relações Exteriores da China informou no sábado que Ursula não trabalhava mais na China porque ela não fez um pedido público de desculpas pelo artigo escrito em 18 de novembro.
Horas depois de o presidente chinês, Xi Jinping, falar ao presidente francês, Francois Hollande, que a China apoiava a França após os ataques em Paris em novembro, segundo o artigo, o Ministério de Segurança Pública da China anunciou a prisão de suspeitos de um ataque à uma mina de carvão em setembro, em Xinjiang.
"Solidariedade bonita, mas não totalmente livre de motivos ocultos", escreveu Ursula em seu artigo.
Em 20 de novembro, o governo anunciou que forças de segurança em Xinjiang haviam matado 28 "terroristas" de um grupo que lançou um ataque mortal a uma mina de carvão em setembro, sob a liderança de "extremistas estrangeiros". O governo não deu detalhes sobre a formação do grupo.
A Reuters não conseguiu verificar de forma independente se os suspeitos eram muçulmanos uigures ou se eles tinham participação no ataque à mina devido às fortes restrições do governo ao jornalismo em Xinjiang.
No sábado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lu Kang, disse que o artigo da jornalista francesa "apoia abertamente atividade terrorista, o assassinato de inocentes e insultou o público chinês".
Ursula, que morava na China há seis anos, disse que se encontrou com autoridades do Ministério de Relações Exteriores da China três vezes desde o fim de novembro, após o estatal Global Times publicar um comentário criticando o artigo que ela escreveu sobre a política da China em Xinjiang após os ataques em Paris.
A jornalista, que disse ter recebido ameaças de morte após o artigo, disse à Reuters que falou ao Ministério que o Global Times havia distorcido o significado do artigo.
"Eles queriam que eu me desculpasse publicamente por meus erros", disse Ursula. "Mas eu disse que meus erros foram todos inventados pelo Global Times. Eu não posso me desculpar por crimes que não cometi".
Quando questionado sobre os encontros, Lu disse que o Ministério não queria "divulgar a situação".
O Global Times não quis comentar quando procurado pela Reuters.
(Por Joseph Campbell e Ben Blanchard)